Extremo Cultural abre programação de cultura popular com coco, boi de reis e forró

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cultura popular_foto_gilbrtofirmino_ (48)O primeiro dia do Extremo Cultural dedicado à cultura popular foi aberto neste domingo (5), com apresentações de coco, boi de reis e forró pé de serra. Às 17h30, Vó Mera, ícone da resistência cultural popular, abriu a programação com ciranda e coco e convocando o público para abrir uma grande ciranda num dos cartões-postais mais visitados de João Pessoa, a Feirinha de Tambaú, cenário das próximas apresentações.

Um dos expoentes mais carismáticos da arte popular paraibana, moradora do bairro do Rangel, ela conta que o primeiro coco do qual participou foi na cidade de Alagoinha (PB). A brincadeira era tradicional das festas juninas, mas também ocorria durante a queima das peças de barro e de madeira, em fornos e carvoeiras. Como esse trabalho artesanal durava a noite inteira, era necessário que as pessoas ficassem acordadas para evitar estragos no material ou o apagar do fogo.

“Vó Mera é a essência de toda a regionalidade, do tempo em que João Pessoa não absorvida tantos grandes eventos e a cultura era feita nas comunidades”, diz a professora de Comunicação Joana Belarmino, autora de uma homenagem à cirandeira. “Ela conta a história das raízes de João Pessoa”, completa a cantora Gláucia Lima, que foi backing vocal em algumas apresentações da Vó e a convidou para cantar em seu último DVD, “Zanzar”.

Ritmos irmãos, o coco e a ciranda nasceram nas Alagoas do tempo de Zumbi dos Palmares. Foi “descoberto” pelos escravos. Recebe várias nomenclaturas diferentes, como coco de roda, de embolada, de praia, sertão e umbigada, a depender do local. O seu som característico vem de quatro instrumentos (ganzá, surdo, pandeiro e triângulo), mas o que marca mesmo a cadência do ritmo é o repicar acelerado dos calçados. A sandália de madeira é quase como um quinto instrumento.

Boi de Reis – Em seguida, foi a vez do Boi de Reis Estrela do Norte, do Bairro dos Novais. Comandado por Mestre Pirralhinho, da quarta geração de brincantes, ele apresentou ao público personagens que, dede a história medieval, compõem o imaginário religioso e pagão da cultura ocidental.

O grupo foi criado em Bayeux, pelo bisavô do Mestre Pirralhinho, Mestre Lino Ventura, que ensinou a brincadeira ao filho, João do Boi, pai de Pirralhinho. De geração em geração, o folguedo, de origem portuguesa, entrosa filhos, genros, noras, primos e netos.

Inspirado no Boi de Reis do Nordeste, o folguedo do Boi se desdobrou em boi-bumbá ou bumba-meu-boi, e cultura popular_foto_gilbrtofirmino_ (68)difundiu-se pelo Brasil de acordo com os processos de colonização e povoamento dos estados. Insere-se no ciclo natalino, junino ou mesmo carnavalesco e, na ampla variedade de suas encenações, o tema da morte e ressurreição do boi emergem. Em torno do episódio dramático, agregam-se vários personagens, com galantes e damas, Mateus, Birico, Catirina, vaqueiros, cavalo marinho, urso, jaraguá, gigante, diabo, Caipora, papangus e o boi. “O Boi é o resgate da nossa cultura de origens”, resume Tony Silva, um dos mestres.

A apresentação, que também convida o público à dança no ato final, encantou a turista Carol Misarelli, de São Paulo: “É uma maravilha brincar e interagir em grupo”, disse. “Para fazer sucesso no eixo sulista, basta ser jovem ou exibir o corpo. Este tipo de manifestação mostra que a cultura está muito viva e tem apelo”, compara a professora de educação infantil Júlia Oliveira, que veio com o marido e amigos conhecer o folguedo.

Os Gonzagas– Às 20h, o grupo Os Gonzagas subiu ao palco. Formado por seis jovens, entre irmãos, primos e amigos que tocam juntos desde 2000, eles impuseram um repertório recheado de xotes, marchinhas galopadas, baiões e forrós, com canções de Gonzagão, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos. As músicas próprias, como “Deixa o Vento Levar”, “Ah, se eu fosse dois” e “Amor da gota”, também entraram no repertório.

Programação do Extremo Cultural – Cultura Popular:

Segunda – 06/01 – Lapinha Jesus de Nazaré e Cavalo Marinho Sementes de João de Boi;

Domingo – 12/01 – Emboladores Frank e Nazar, cancioneiros Auremir Caetano e Pedro e repentistas JB da Viola e Ivan de Oliveira;
Domingo – 19/01 – Babau da Paraíba, com Mestre Clóvis, e Ciranda do Sol, com Mané Baixinho;

Domingo – 26/01 – Cordelistas Luiz Gonzaga e Índio e cancioneiros Paulo Cruz e Daudete Bandeira;

Domingo – 02/02 – Coco de Roda do Mestre Benedito e Ventriloquia com Mestre Clébio.