Babaus e ciranda empolgam o público na Feirinha de Tambaú
O teatro de babaus do Mestre Clóvis, de Guarabira, e a Ciranda do Sol do Mestre Mané Baixinho empolgaram o público que passou pela Feirinha de Tambaú em mais um domingo (19) de cultura popular do projeto Extremo Cultural. Os shows, que começaram às 17h, arrancaram risadas com as performances inspiradas dos bonecos de madeira e terminaram com um ensaio aberto de música e dança de roda.
Personagens como o Sanfoneiro João do Balde e o Capitão João Redondo puxaram a trupe animada do Mestre Clóvis, saudando a plateia e alfinetando os mais distraídos. Daí em diante, para compor as historinhas intercaladas por intervenções dos espectadores, um desfile de bonecos roubou a cena, com destaque para Raimunda, uma boneca de pano de 1,50 metro de altura que só “sossegou” quando um convidado escolhido topou ser o seu par no forró. Thiago Hilgert, turista de Rondônia, foi à vítima. “Nunca havia dançado com uma boneca antes. É mais fácil do que com muita mulher”, brincou.
Clóvis é bonequeiro desde os 18 anos, ofício que aprendeu com os mestres Miranda, Salustiano e Bilino, de Guarabira. As performances, no começo tímidas, eram feitas em sítios, praças e associações profissionais do Brejo paraibano. Com o tempo, tomaram corpo e reconhecimento e chegaram à Bahia, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Pelas suas contas, mais ou menos 200 bonecos já chegaram a compor o seu acervo, mas muitos foram doados ou foram vítimas do desgaste do tempo. Entalhados em mulungu, imburana, papel machê ou garrafas pet, tomaram vida e conquistaram “fama”, como o Nêgo Benedito, Florisbela, o Sanfoneiro João, o Boi, a Cobra, a Caveira e o Diabo.
Junto com o irmão, Clébio, responsável pelas vozes dos babaus, Clóvis monta o roteiro das apresentações, modificado, sobretudo, segundo ele, pela resposta da plateia. “Há uma história inicial, que acaba sendo desconstruída pelo que improvisamos de momento”, disse. Clóvis, que já foi serigrafista e camelô, retira dos babaus o sustento para se manter. “Em mês bom, chego a fazer 20 shows”, contou. “O teatro de bonecos conta a história do nosso folclore, das antigas brincadeiras. E diverte todo mundo”, afirma Ney Robson, supervisor escolar, um dos espectadores.
Origem do babau – O teatro de bonecos chegou ao Brasil pelas mãos dos colonizadores em meados do século XVI, como instrumento de doutrinação religiosa. Consolidou-se no Nordeste, fixando-se especialmente em Pernambuco e sendo batizado na Paraíba como babau. Por meio desta arte, os manipuladores costumam transmitir ao público uma mensagem de teor enriquecedor ou bem-humorado.
Ciranda do Sol – Comandada pelo Mestre Manoel, mais conhecido como Mané Baixinho, do Bairro dos Novais, a Ciranda do Sol ‘invadiu’ palco e praça da Feirinha para formar uma grande roda assim que a batida do bumbo e caixa começou a tocar. Percussionista e cantora entusiasta da cultura popular, com participações em tribos indígenas e cavalo marinho, Tina Jocelene resume a sensação de um grupo de brincantes de comunidade levar a sua arte a público: “É uma alegria ver o resultado de horas de ensaio semanais, em que enfrentamos as mais diversas dificuldades, terminar aqui”.
A Ciranda do Sol foi batizada assim por causa do horário até quando os brincantes se reuniam para dançar. “Por volta de 1970, brincávamos muito na praia de Tambaú, até o sol raiar. Por isso ficou este nome quando a fundei, muito tempo depois, em 1995”, explicou Baixinho.
Discípulo do cirandeiro João Grande, já falecido, Baixinho, que é pedreiro, atribui à dança a razão de sua motivação. “Eu canto, danço e ensino as crianças a cirandar. É a minha vida”. A Ciranda do Sol tem hoje 45 integrantes, 40 destes dançarinos.
Programação do Extremo Cultural – Cultura Popular:
Domingo – 26/01 – Cordelistas Luiz Gonzaga e Índio e cancioneiros Paulo Cruz e Daudete Bandeira;
Domingo – 02/02 – Coco de Roda do Mestre Benedito e Ventriloquia com Mestre Clébio.