Duplas de cordelistas e cancioneiros embalam o domingo de Cultura Popular
Duplas de cordelistas e cancioneiros embalaram o público que passou pela Feirinha de Tambaú em mais um domingo (26) de apresentações populares do Extremo Cultural, projeto promovido pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), através da Fundação Cultural (Funjope). Às 18h, o poeta romântico Luiz Gonzaga declamou e cantou alguns dos seus mais de 40 cordéis publicados. Ele revezou com José Pedro de Lima, o “Índio”, poeta popular de rascante veia humorística.
Bom de verso, Índio arrancou gargalhadas do público com uma fictícia conversa telefônica entre os presidentes Dilma e Obama sobre as políticas anticorrupção de seus respectivos governos. Autor de 230 cordéis escritos desde 2005, é a este tipo de literatura que o ex-agricultor da cidade de Dona Inês deve o seu letramento. “Só frequentei a escola por 28 dias, porque tinha de trabalhar no campo. Então a minha mãe acabou me alfabetizando em casa, lendo os cordéis para mim”, lembra ele, que já foi premiado pela coleção Novos Escritos, da Funjope, com a obra cômica “Irineu: o terror de Mangabeira”. Índio, que trabalha como encarregado de obras, banca as impressões do próprio bolso e anuncia quatro livrinhos para breve.
O potencial pedagógico do cordel desenvolvido em crianças em idade escolar foi ressaltado pela educadora Goreth Martins, uma das espectadoras. “As crianças absorvem facilmente os versos em oficinas de leitura e chegam a produzir trabalhos lindos, dignos de exposição!”, diz. Ela só lamenta que este tipo de arte esteja rareando. “Sou leitor de cordel porque vim do interior e é a este tipo de cultura que o livro remete, mas me deparei com poucos livrinhos desde que cheguei a João Pessoa”, lamenta Francisco Cássio, estudante de Agronomia.
No palco, o decano Daudeth Bandeira debutou em parceria com o repentista Paulo Cruz ao som da viola, no encerramento da programação do dia. Juntos, eles se enfrentaram com sextilhas desafiantes, estilo conhecido como pé de parede. “A espinha dorsal da cantoria é o estilo desafiante; é quando os cancioneiros se digladiam sobre os temas pedidos pela plateia”, explica. “A declamação evidencia o cuidado com a linguagem, a rima, a métrica e o vernáculo, que tem que ser exemplares na cantoria, não importa o estilo em que se desenvolva, se nas sextilhas, quadrões ou martelo-agalopado”, ensina, sem esconder a preferência pelos poemas caboclos e causos de interior.
Natural de São José de Piranhas, Daudeth conta quase 40 anos de carreira. O nome de batismo, Manuel Bandeira de Caldas, foi abreviado para Daudeth por causa de uma admiração da mãe pelo escritor francês Alphonse Daudet. A inclinação para as letras ficou evidente desde cedo nos cordéis e livros que lançou ao longo de 30 anos, “Vale dos versos”, “Os atrativos da Paraíba decantados em poesia”, “Dias d’versos” (escrito com José de Sousa Dantas) e “Nas águas da poesia”, no prelo.
Daudeth descobriu-se repentista jovem, por ironia longe da terra natal, quando era metalúrgico em São Paulo. Voltando à Paraíba, formou-se em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), carreira que exerce até hoje ao lado da cantoria, a qual nunca parou de desbravar.
Origens do cordel – A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Também são utilizados desenhos e clichês zincografados. Ganhou este nome porque, em Portugal, eram expostos ao povo amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até mesmo nas ruas. A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, com os portugueses. De custo baixo, geralmente estes pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Seu sucesso decorre da combinação de preço baixo, tom humorístico e por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região.
Programação do projeto Extremo Cultural – Cultura popular:
2/02
17h – Coco de Roda do Mestre Benedito e Dona Teca de Cabedelo
18h -Selma do Coco e Sônia Costa.