Espetáculo produzido na Estação Cabo Branco participa do I Festival de Teatro “Made in Lima”

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Adriana Crisantopeça

O espetáculo Álbum de Família produzido pelo Núcleo de Artes Cênicas da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes irá participar neste sábado (13), às 20h, no Teatro Lima Penante do “I Mostra de Teatro Made in Lima” que teve início no dia 1 de agosto e prossegue até o dia 14, no Lima Penante, localizado na Avenida João Machado, s/n, no centro da Capital.

O diretor do espetáculo, Flávio Melo, ficou muito feliz ao saber que irá mostrar o trabalho que é desenvolvido pelo Núcleo de Teatro da Estação Cabo Branco e que os pessoenses ainda não conhecem ou não tiveram a oportunidade de conhecer.

Participam da Mostra Made in Lima 21 espetáculos teatrais que são produzidos em João Pessoa e abrangem vários gêneros, da comédia a aventura, dança passando pela ficção até o drama de fatos reais como a montagem de “João para João”, em que o diretor e servidor da Estação Cabo Branco, Flávio Melo, interpretou o papel de João Dantas na trama.

A montagem “Álbum de Família” é fruto das oficinas de teatro promovidas pelo Núcleo de Artes Cênicas da Estação Cabo Branco nos últimos dois anos pelo ator, iluminador e diretor de teatro, Flávio Melo, que sempre estudou a obra de Nelson Rodrigues.

“O álbum de família é a nossa gênese”, comentou o diretor Flávio Melo que contou com um elenco de 11 novos talentos da dramaturgia local, que são: Dayse Borges (Senhorinha), Antônio Marcos (Jonas), Kamila Oliveira (Glorinha), Mylla Maggi (grávida), Elaine Maranhão (Tia Ruth), Luiza Oliveira (Teresa), Hugo Lucena (Edmundo), Tatiana Lima (Eloisa), Bruno Fonseca (Guilherme), Pedro Ivo (Speeker) e Eduardo Almeida (Nônô).

O elenco, segundo Flávio Melo, é um salto na entrega e dificuldade de se fazer teatro em todos os sentidos. “Procurei as características de cada ator para compor os personagens”, contou Flávio Melo, que percebeu o deboche do ator que faz o narrador Pedro Ivo.

História – “Álbum de Família” retrata a vida de uma família da aristocracia brasileira, sob a ótica do locutor (que espelha a opinião pública). Família essa que aparentemente é normal e feliz, mas cuja intimidade dela é caracterizada por uma rede paixões incestuosa e com quase todo tipo de situação.

Na trama Jonas, patriarca da família, vivido pelo ator Antônio Marcos, que tem o hábito de trazer para sua casa garotas de 12 a 16 anos para desvirgina-las e, com isso extravasar o desejo sexual que sente pela filha caçula, chamada Glória, encenada pela atriz Kamila Oliveira. Jonas conta com a ajuda de Rute, sua cunhada, que apaixonada por ele faz qualquer coisa para agradá-lo. Glorinha, a filha, por sua vez, tem uma verdadeira adoração pelo pai, que, aparentemente, também está além de ser uma relação de pai e filha.

O primogênito, Guilherme, também se sente atraído pela irmã Glória, tendo chegado ao ponto de se castrar para evitar consumar seu desejo. O segundo filho, Edmundo (Hugo Lucena), é perdidamente apaixonado pela mãe, D. Senhorinha, paixão esta que impede que ele consiga consumar seu casamento com Heloísa (Tatiana Lima). D. Senhorinha (Dayse Borges), por sua vez, nutre um amor proibido pelo terceiro filho, Nonô (Eduardo Almeida), que, tendo enlouquecido subitamente há alguns anos, devido a um contato incestuoso com sua mãe, passou a correr nu pelos campos da fazenda onde se passa a história, urrando e gritando constantemente.

A história principal é interrompida regularmente para que sejam mostradas ocasiões, em diferentes épocas, nas quais membros da família são fotografados para um álbum. Tais cenas são acompanhadas pela voz do locutor, que sempre descreve a virtude e a felicidade daquelas pessoas, contradizendo o que é mostrado ao público ao longo de toda a peça.

Som e efeitos do Sepultura, Wagner, Siba e Jaguaribe Carne

Com sons de efeitos da banda Sepultura, Wagner, Siba e Jaguaribe Carne fazem com que “Álbum de Família” saia do tempo e tire a respiração do espectador, e o faça não entrar do marasmo ou monotonia que possa acontecer durante o espetáculo.

“De Wagner trouxe a Marcha Nupcial do casamento da família, de Siba trago a trilha sonora do filme Baixio das Bestas, um pouco de ciranda, do Sepultura o peso instrumental do rock e como não poderia faltar Sete Boleros Cardíacos dos paraibanos do Jaguaribe Carne (Pedro Osmar e Paulo Ró)”, explicou Flávio Melo.

Luz homenageia time de Nelson Rodrigues

Tudo foi devidamente pensado pelo diretor Flávio Melo. Até mesmo a iluminação em vermelho, verde e branco para homenagear o time de futebol “Fluminense”, do qual Nelson Rodrigues era torcedor fanático. “A luz desenha também o estado psicológico dos personagens”, acrescentou Flávio Melo. Em outros momentos a luz surge no palco, com baixa intensidade, dá a ideia da casa antiga, do passado tradicionalista da aristocracia das famílias brasileiras.

Palco nu e figurino com roupas de dormir

Em cena pouca estrutura cenográfica, mas um palco nu, onde o ator é o elemento principal. Nele foi criado um quadrado no chão de 5 x 5 metros e fechado com lonas pretas que também remete a um grande pátio manicomial. O figurino do espetáculo contou com o apoio da Estação da Moda (Romero Sousa e Antena Pontes), confecção de Lailane Melo e Cristiane Sousa. “Os paletós se parecem com pijamas e camisolas de dormir, que remetem a ideia de camisa de força com cores que variam entre o marrom, preto, bordô”, acrescentou Flávio Melo.

Aspectos subjetivos do espetáculo

A todo o momento o espetáculo e a obra “Álbum de Família” de Nelson Rodrigues apresenta o aspecto da moralidade, em que a situação familiar é desencadeada e o poder patriarcal é quebrado. “Procurei verificar os arquétipos da obra dele dando outra sintaxe para as falas e não criar estereótipos. Tentei ao máximo limpar da cabeça os aspectos pesados da obra”, comentou Flávio Melo que disse ainda que Nelson Rodrigues aparece sempre como o salvador de alguma coisa ou de algo, principalmente nas crises das pessoas.

“A ideia é fazer como público perceba que o espetáculo não acabou, mas que continuará a partir do momento em que as pessoas saem do teatro para suas casas e seus grupos sociais. Para mim o espetáculo termina quando a cortina fecha, pois é quando o público começa a pensar”, finalizou Flávio Melo.

A peça teatral foi escrita em 1945. Foi proibida no ano seguinte à sua publicação, e só liberada para encenação em 1965. Incialmente foi protagonizada por Luiz Linhares e Vanda Lacerda, em 1967.

Esta montagem contou com o apoio do Núcleo de Artes Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba (NAC/UFPB) e Teatro Lima Penante da UFPB e tem os direitos autorais da Associação Brasileira de Música e Artes (ABRAMUS).

Sobre Nelson Rodrigues – Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife (PE), 23 de agosto de 1912 e faleceu no Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980. Foi um jornalista e escritor brasileiro, e um dos mais influentes dramaturgo do Brasil. Mudou-se em 1916 para o Rio de Janeiro. Trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi “A Mulher sem Pecado”, que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral.

O sucesso mesmo veio com “Vestido de Noiva”, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro.

A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem taxadas muitas vezes como obscenas e imorais. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol.

Sobre Flávio Melo – É formado em Educação Artística pela Faculdade Marcelo Tupynambá (SP), dirigiu os espetáculos “Valsa n° 6” (1991), “Ratos de Esgotos” (1992), “Prêt-à-Porter” (1998), “No Amanhecer da Noite” (2003), e em “As Meninas” (2009). Atuou em “Cinco Bulas sem Contraindicação” (1993), “Pequenos Burgueses” (1996), “Gol Anulado” (1997), “Prêt-à-Porter” (1998), “Fragmentos Troianos” (1999), “Achados e Perdidos” (2000), “No Amanhecer da Noite” (2003), “A Fantástica Peregrinação do Coronel atrás de um Rabo de Saia” (2008), “Paixão do Menino Deus” (2009), “Os Sete Mares de Antônio” (2010), “Divino Calvário” (2011), “Fragmentos de um Sol Quente”, baseado no painel “No Reinado do Sol”, de Flávio Tavares (2013).

Ficha Técnica:

Título: Álbum de Família

Autor: Nelson Rodrigues

Direção geral: Flávio Melo

Cenografia, adereços, trilha sonora, desenho e iluminação: Flávio Melo

Sonoplastia: Cristiano Melo

Figurino: Estação da Moda – Romero Sousa e Atena Pontes

Confecção: Lailane Melo e Cristiane Sousa

Elenco: Dayse Borges (Senhorinha)

Antônio Marcos (Jonas)

Kamila Oliveira (Glorinha)

Mylla Maggi (grávida)

Elaine Maranhão (Tia Ruth)

Luiza Oliveira (Teresa)

Hugo Lucena (Edmundo)

Tatiana Lima (Eloisa)

Bruno Fonseca (Guilherme)

Pedro Ivo (Speeker)

Eduardo Almeida (Nônô)

SERVIÇO:

Espetáculo: Álbum de Família

Sábado (13)

Local: Teatro Lima Penante – Av. João Machado, s/n, centro.

Hora: 20h

Classificação indicativa de idade: 16 anos.

Mais informações: 98833.9492.

CONTATO PARA IMPRENSA:

Flávio Melo – 9.8833.9492.