Saga de Dom Quixote contada sob a visão da cultura popular

Por - em 686

Durante toda esta semana, o projeto ‘Outubro do Teatro’ promovido pela Fundação de Cultura de João Pessoa (Funjope) vai ocupar as ruas e praças da Capital paraibana, levando espetáculos de teatro, circo e bonecos. O Grupo Teatro que Roda, de Goiânia (Goiás), apresenta nesta quarta (3), no Ponto de Cem Réis, e na quinta-feira (4), na Lagoa, às 16h, o espetáculo ‘Dom Quixote’, uma adaptação da obra literária Dom Quixote de La Mancha (de autoria de Miguel de Cervantes). Este clássico da literatura mundial do século XVII será apresentado sob a ótica da cultura popular. Quem assina a direção do espetáculo é André Carreira (Florianópolis-SC).

O espetáculo é a confluência de uma série de paradigmas que discutem o deslocamento da fronteira entre a loucura e a normalidade contemporânea (o fazer teatral em Goiás), o teatro de rua, a ruptura da lógica urbana, as condições do cidadão frente ao mundo mercadológico, a sugestão de um novo olhar sobre a estrutura da cidade e o universo cervantino, que coloca Quixote como uma voz que se projeta sobre a cidade dizendo que é necessário o impossível.

De acordo com o diretor, a adaptação do texto foi feita a partir da escolha de cinco episódios fundamentais da narrativa. “Essa escolha foi orientada pela visão de que Dom Quixote representa algo mais do que o paradigma da loucura. Há na própria criação do personagem uma decisão de enfrentamento com um mundo que segue linearmente, um mundo que pede atos heróicos, que são os únicos capazes de dizer algo em uma época em que tudo tende a ser transformado em mercadoria. Onde tudo tem preço e a própria idéia de valor moral, ético ou afetivo parece já não significar nada”, relata.

O Teatro que Roda propõe “invadir” o Centro de João Pessoa com um espetáculo ambulante, que convida e leva o público a um périplo por diferentes episódios, nas quais a narrativa cervantina se desenvolverá em contato direto com os transeuntes e com a aparelhagem da cidade.

A lógica de invasão e ocupação que o grupo propõe combina duas ações fundamentais: a utilização do cavalo Rocinante, parte do cenário móvel e que representa a peça chave da construção do universo do cavaleiro andante, o uso de espaços urbanos, como a ocupação de fachadas de prédios, com descida de rapel e outros vãos da cidade. O resultado é uma abordagem cheia de surpresas para o público.

A intenção desse espetáculo é oferecer ao olhar do público um grande livro, cuja leitura será guiada pela dinâmica de Dom Quixote, interpretado pelo ator Dionísio Bombinha. A atriz Liz Eliodoraz dá vida ao personagem Sancho Pança, pela atriz. O espetáculo conta também com a participação dos atores Hugo Mor, Patrick Éster, Bimbo, Ieda Marçal, Chris Lopes e Karine Fratari.

Teatro que roda
– É um grupo que trabalha a pesquisa e experimentação de linguagens cênicas que possibilitem ações sociais e culturais produtivas. Eles acreditam que é o momento de voltar a pensar o grupo teatral como um espaço de experimentação e de exercício da liberdade criativa que proponha novas discussões sobre estéticas, conteúdos e práticas sociais significativas.

Portanto, a idéia do projeto “Dom Quixote” surgiu do questionamento dos modelos de produção de espetáculos confinados às exigências mercadológicas puramente comerciais e institucionais.

Dentre os modelos encontrados do fazer teatral, o grupo optou pelo teatro de rua por somar todas as condições necessárias ao desenvolvimento das proposições sociais, culturais e artísticas, uma vez que o nível de interação com o público é notadamente ampliado pela interferência no cotidiano urbano e humano.