Ciranda e lapinha na tenda da cultura popular mantém viva as tradições

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Sob olhares atentos e curiosos do público presente aconteceu neste sábado (24), na Tenda Cultural, no Largo da Gameleira, a apresentação da Lapinha Infantil Jesus de Nazaré, de Mandacaru, e da Ciranda do Sol, do Mestre Mané Baixinho, do Bairro dos Novais, como parte da programação do Extremo Cultural realizado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP).

As apresentações foram acompanhadas de perto por um público atento, D. Maria das Graças, que passava pelo local com a mãe e a irmã, lembrou dos Natais em sua cidade. “Eu sou de Campina Grande, e quando eu era menina ia sempre a essas cantorias e faz muito tempo que não vejo algo assim, por isso fiquei interessada e minha mãe também. É uma tradição muito antiga e que faz falta, eu acho muito bonito”, comentou.

A Lapinha Jesus de Nazaré é composta por 25 mulheres e nela os homens  participam apenas tocando instrumentos, segundo seu mestre, José Maciel de Souza, é a única remanescente dos 13 folguedos similares que existiam em João Pessoa e já tem mais de 60 anos de criação.

Entusiasmada, Josema Moura, de Recife, cantava e dançava todas as canções “Eu conheci a Lapinha no colégio, eu estudava em escola de freiras e comecei a dançar lá, eu era ‘Diana’, que é a que se veste com as duas cores, vermelho e azul, é a que não tem partido, ela fica em cima do muro, animando os dois cordões” explicou Josema.

Origens – A Lapinha se divide em dois grupos, chamados de cordões azul e encarnado, que representam a cor do manto de Nossa Senhora e do sangue de Jesus, e é formado por pastoras que dançam e cantam diante do presépio, na noite de Natal.

No dia 6 de janeiro, Dia de Reis, à meia-noite, dá-se inicio à queima da lapinha, geralmente com a apresentação do Guerreiro, seguida pelas Pastoras que saúdam o presépio, retiram as figuras e recolhem as palhas e flores, que são colocadas num andor para que o material, que é considerado sagrado, seja queimado e não jogado no lixo.

Segundo Emilson Ribeiro, coordenador da Divisão de Cultura Popular da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), o nome Lapinha deve-se à origem do folguedo, que foi criado nas igrejas, na cidade de Lapa, em Portugal, e depois trazido ao Brasil pelos Jesuítas, como forma de difundir a religiosidade católica.

Após a apresentação da lapinha, o grupo “Ciranda do Sol”, também empolgou o público presente, que se juntou a roda de dança e acompanhou os passos dos cirandeiros. Danile Jéssica Belarmino da Silva, de João Pessoa, fez questão de participar da dança. “Eu pratico capoeira e me apresentei no primeiro dia do evento, mas também danço ciranda, samba, coco, de tudo um pouco, o dançarino quando escuta o som não fica parado. Acho que a oportunidade que a Prefeitura está dando aos grupos é muito importante porque dá valor à cultura da região, e não apenas a de outros Estados” afirmou a jovem.

Ciranda do Sol – O nome do grupo Ciranda do Sol surgiu a partir do costume de se reunir para dançar, ainda na década de 70, até o sol raiar e hoje o grupo conta com 54 integrantes, sendo 40 dançarinos e como comandante, o Mestre Manoel, do Bairro dos Novais, mais conhecido como Mané Baixinho, que compôs 120 músicas como “Sou Cirandeiro”, “Oh, meu Jesus!”, “Estava na praia” e “Chegou meu navio lá no porto”, entre outras.

A origem da ciranda, segundo Emilson Ribeiro, vem do Coco de Roda, que é um folguedo brasileiro afrodescendente, surgido no Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, onde os escravos quebravam coco para fazer óleo e cantavam, daí surgiu o Coco de Roda e, tempos depois, a Ciranda.

O folguedo – No centro da roda da ciranda ficam o mestre, o contramestre e os músicos, improvisando cantigas e tocando os instrumentos. A dança é típica das praias, mas espalhou-se para o interior e outras regiões.

Lília dos Santos Silvestre, participa do grupo Ciranda do Sol juntamente com a filha e um sobrinho. “Desde pequena minha mãe sempre me incentivou com relação a cultura. Comecei na quadrilha junina, mas quando fiz dezoito anos casei e parei de dançar, mas como tive uma filha e na escola dela havia um grupo de dança, eu coloquei ela e meu sobrinho e ficava sempre acompanhando eles, até um dia em que faltou uma cirandeira e precisou ser substituída, daí entrei e não saí mais, fiquei dançando ciranda, faz dois anos que participamos e acho isso muito importante, porque um povo sem cultura é um povo sem identidade, lá em casa respiramos cultura”, comentou Lília dos Santos.

As apresentações culturais prosseguem no próximo sábado (31), na Tenda Cultural, no Largo da Gameleira, a partir das 17 horas, com Boi de Reis Estrela do Norte, do Mestre Pirralinho e Maculelê da Capoeira, Angola Comunidade.