Coco de roda e capoeira marcam a despedida do Extremo Cultural

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Funjope_extremo_feirinha_foto_RafaelQueiroz_2O Coco de Roda e Ciranda do Mestre Benedito, comandado por Dona Teca de Cabedelo, e o Grupo de Capoeira Afro Nagô, do Valentina Figueiredo, foram as atrações deste domingo (2), dia do encerramento do projeto Extremo Cultural, na Feirinha de Tambaú. Desde 5 de janeiro, o projeto levou, em apresentações semanais e gratuitas, grupos de brincantes de boi de reis, cordelistas, cancioneiros e emboladores locais para a praça que é um dos principais pontos do turismo da Capital. O projeto foi uma promoção da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), por meio da sua Fundação Cultural (Funjope).

Uma das atrações das mais referendadas do universo da cultura popular, Dona Teca subiu ao palco às 17h para embalar a plateia ao ritmo do coco e da ciranda. Herdeira do grande Mestre Benedito, fundador do grupo morto em 1999, ela reuniu irmãos, filhos, netos e bisnetos para uma grande ciranda guiada pelas canções que há décadas estão no repertório do folguedo familiar.

O grupo surgiu em 1950 e formalizou-se 28 anos depois, sempre mantendo vivo o espírito da brincadeira. “Ao nosso núcleo se juntava qualquer Funjope_extremo_feirinha_foto_RafaelQueirozpessoa que estivesse assistindo e quisesse se divertir”, lembra Terezinha da Silva Carneiro, a Dona Teca. Fundamentalmente, nunca se desviou da sua formação familiar: os 10 filhos e dezenas de netos e bisnetos que formaram a base do Coco de Roda e Ciranda do Mestre Benedito continuaram com Dona Teca do Coco depois da morte do seu fundador, aos 84 anos.

“Quanto mais você conhece a cultura popular, mais conhece a si mesmo. Como pesquisador de música, eu tenho que vivê-la para ter o que passar aos meus alunos”, reconhece o professor de música Rinaldo Vitorino, que aproveitou os shows para fotografar. O cruzamento entre trabalho escravo, a produção do fruto e imaginação brasileira produziu o ritmo-irmão do fruto do coqueiro. “O coco surgiu no Quilombo dos Palmares, da sonoridade obtida pelo trabalho de extração do óleo do fruto. Posteriormente, dele adveio à ciranda, que era mais bem aceita pela alta sociedade colonial pelo seu menor apelo erótico. As coreografias emulavam os movimentos de vaivém das marés tais quais hoje”, ensina Emilson Ribeiro, diretor de Cultura Popular da Funjope e ativo pesquisador.

 

Funjope_extremo_feirinha_foto_RafaelQueiroz_1Um misto de dança e arte marcial – A Capoeira Afro Nagô apresentou ao público uma sequência de danças guerreiras afros, como o maculelê, o samba de roda e o afoxé, além de jogos. Todas as manifestações reforçam o caráter interdisciplinar do esporte, que transita entre o universo da dança e das artes marciais. Surgida há 34 anos em João Pessoa, a Afro Nagô hoje tem núcleos por boa parte da Paraíba (soma 600 alunos) e acumula apresentações na Suíça, Canadá e Estados Unidos, onde também fundou grupos. “A capoeira é uma arte marcial completa: tem dança, poesia, brincadeira e educa. Atrás do futebol, é o que mais divulga o Brasil mundo afora”, defende o seu líder, Mestre Zunga. Por lei, a capoeira hoje é considerada patrimônio cultural imaterial do Brasil.

 

“A capoeira trabalha corpo e mente na medida em que todo aluno é instruído a entender da sua história e a tocar todos os instrumentos percussivos. Fisicamente, trabalha músculos do pé até a cabeça, além do reflexo e da flexibilidade”, diz Aline Machado, praticante há sete anos.