Debate discute participação das mulheres na construção civil

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No lugar de sala de aula, um espaço de debate sobre preconceito, discriminação e desigualdades na participação da mulher no mercado de trabalho. Os alunos do Projovem Urbano do Município de João Pessoa foram os primeiros participantes do ciclo de debates “Diálogos”, promovido pela Secretaria Extraordinária de Políticas Públicas para Mulheres (SEPPM) em parceria com a Estação Cabo Branco, Ciência, Cultura e Artes, no Altiplano. O objetivo é discutir e promover uma reflexão quanto à presença das mulheres inseridas em profissões culturalmente consideradas masculinas. O primeiro ciclo, realizado na noite desta quarta-feira (22), no miniauditório I da Estação das Artes, chamou atenção para a atuação das trabalhadoras do setor da Construção Civil.

A secretária titular da SEPPM, Socorro Borges, falou sobre a importância desses debates e do alerta feito aos jovens para que a prática do não preconceito e do respeito às mulheres nos vários setores, como no setor do trabalho, possa imperar sem dificuldades. “A Secretaria de Mulheres de João Pessoa, assim como todas as outras existentes no País, têm o desafio de trazer para a sociedade esse debate e promover uma reflexão sobre essas questões, como as que envolvem as mulheres nas várias áreas de trabalho, como aquelas culturalmente ocupadas pelos homens”, disse Socorro Borges.

A gestora explica que esse tipo de discussão está previsto também no Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, que está sendo lançado em sua 4ª edição. A idéia é estimular a adesão ao programa por parte de empresas e organizações públicas e privadas para a execução de um plano de ação que tenha como objetivo contribuir de maneira decisiva para a eliminação das discriminações e desigualdades vivenciadas pelas mulheres no ambiente de trabalho.

A palestrante do primeiro “Diálogos” foi a profissional de Gestão de Qualidade, pós-graduada em Recursos Humanos, Márcia Regina da Silva, trabalhadora da Construtora TWS. Com formação inicial como técnica em Segurança do Trabalho, ela conta que inicialmente se estabelecer no setor foi um pouco difícil, mas que atualmente consegue trabalhar sem problemas entre dezenas de operários nos canteiros de obras.

“Sempre digo que o importante é que cada um identifique os próprios talentos, busque qualificação e trabalho naquilo que gosta. O setor da Construção Civil ainda é formado em quase toda sua totalidade por homens, mas as mulheres já vêm ocupando também esses espaços. Mesmo que a participação de operárias seja mínima, temos muitas engenheiras, técnicas de segurança, mulheres que trabalham nas obras, que lidam com os operários e que não são contestadas”, conta Márcia Regina.

Nos canteiros de obras da construção civil, algumas mulheres também aparecem como trabalhadoras que atuam em parceria com os próprios companheiros, enfrentando algumas vezes também o preconceito. “Fui ajudante de eletricista em uma obra acompanhando meu marido e ouvi muitas frases de preconceito. Isso só acabou quando o dono da obra apareceu e disse para todos eles que eu era um exemplo para outros homens e mulheres”, contou Adailza, estudante do Projovem Urbano, que se identificou apenas pelo primeiro nome, participante do debate.

Varias jornadas – Outra questão discutida durante o evento foi a jornada de trabalho encarada por muitas mulheres. Além da jornada fora de casa, muitas trabalhadoras ainda precisam encarar horas de trabalho dentro de casa e com o cuidado com os filhos, restando pouco tempo para que elas possam realizar outras atividades como o lazer, os estudos, e novos aprendizados.

“Precisamos chamar atenção para essa outra problemática na vida das mulheres. A participação do marido, companheiro, filhos e irmãos nas tarefas domésticas e no cuidado com as crianças é extremamente necessária para que as mulheres também possam ter tempo para elas mesmas, para o lazer, para o envolvimento nas questões sociais e políticas, assim como acontece com os homens”, reforçou a secretária Socorro Borges.

Próximo ciclo – O próximo ciclo de “Diálogos” deve acontecer no mês de junho, com a participação de mulheres delegadas. A proposta é que os ciclos aconteçam todos os meses trazendo para o debate mulheres que atuam em outras áreas de trabalho, como segurança, transportes coletivos, entre outros setores tradicionalmente ocupados por homens.

“O objetivo dessa parceria é que possam ser compartilhadas experiências sobre como as mulheres ainda enfrentam a resistência masculina e até a de outras mulheres em alguns setores de trabalho”, completou Viktoria Borges, assessora de eventos da Estação Cabo Branco.