Preservação ambiental é tema do seminário O Grito na Estação Cabo Branco
As atividades alusivas à programação de inauguração do novo prédio da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes prosseguiram nesse sábado (30) com o Seminário “O Grito Krajcberg” no auditório da casa. Pela manhã, o público teve a oportunidade de ouvir e interagir com o escultor Frans Krajcberg e o poeta amazonense Thiago de Mello. Na ocasião, o poeta recitou sua poesia de protesto e leu trecho do “Manifesto do Naturalismo Integral”, de autoria de um dos melhores amigos de Frans, o também ambientalista Pierre Restany. O manifesto, também conhecido por “Manifesto do Rio Negro”, foi escrito em 1978.
Thiago de Mello recitou parte de seu poema “A Estrutura do Homem” e falou sobre Augusto dos Anjos e a importância do escritor paraibano para a literatura brasileira. Ao final os intelectuais receberam homenagens do público presente no auditório.
À tarde, o seminário prosseguiu com a palestra de Frans Krajcberg falando sobre sua luta empreendida nas últimas décadas em favor da preservação ambiental no Brasil. Ele também tirou dúvidas do público e falou sobre a mostra aberta na noite de sexta-feira (29), na inauguração da Estação das Artes. “Natureza Extrema” emprega restos de madeira queimada em grandes esculturas como um protesto contra o avançado desmatamento.
Krajcberg, 91 anos, mora há 41 anos em Nova Viçosa, sul da Bahia, em uma reserva de Mata Atlântica que ele próprio ajudou a reflorestar (e por quatro vezes foi incendiada). Nasceu na Polônia, mas se naturalizou brasileiro. Ele é uma voz incansável em defesa dos recursos naturais do planeta, motivo pelo qual acumula vários prêmios mundiais.
Em seu discurso, Krajcberg atacou a legislação ambiental brasileira, considerada por ele muito permissiva, o sacrifício de populações indígenas inteiras em nome do poder econômico e até o próprio brasileiro que, segundo ele, desconhece as características do País em que vive: “Hoje em dia, grande parte dos índios brasileiros está relegada às fronteiras. Este problema sequer é levantado nos círculos de debates, o que me envergonha. Por isso a defesa da Amazônia é o grito que levo para todo o mundo”, disse.
Documentário – Após a palestra, ainda à tarde, foi exibido no auditório o documentário “O Grito Krajcberg” (2011, 70 min.), sobre o dia a dia do artista em meio à floresta onde vive e trabalha, em Nova Viçosa. O trabalho consumiu três anos de filmagens da jornalista mineira Renata Rocha e nasceu da ideia inicial de se produzir uma biografia. “Foi uma jornada muito intimista, em que aprendi muito”, declarou.
O documentário traz uma breve passagem histórica, por meio de fotos raras, sobre o envolvimento do escultor na 2ª Guerra, episódio em que perdeu toda a família nos campos de concentração nazistas. Passeia com ele pelos poucos cenários preservados das redondezas de Nova Viçosa, como manguezais e praias desertas, e foca em depoimentos de artistas, ativistas e políticos que emprestam algum empenho à causa. Mas, sobretudo ressalta o enorme esforço de um artista solitário cuja vocação foi depositada na natureza, assim como ele diz: “A mata fechada tem galhos bonitos, retorcidos, formas variadas. Tanta riqueza me ajuda a ver a escultura, antes mesmo de eu a esculpir.”