Oficinas de capoeira e dança do ventre movimentam cultura nos bairros
Duas oficinas culturais estão movimentando a cena artística e promovendo inclusão nos bairros dos Funcionários e Altiplano-Cabo Branco. É lá onde funcionam as oficinas gratuitas de capoeira e dança do ventre, com alunos das mais variadas idades e faixas de renda beneficiados indistintamente.
No Centro de Referência da Juventude (CRJ) dos Funcionários, perto da Feira de Oitizeiro, está instalada a oficina “Capoeira no Pé: História na Mão”, com aulas às segundas e terças-feiras envolvendo 15 alunos a partir dos 7 anos. Victor Ranieri, de 24, é um dos mais velhos, e cita os benefícios dos jogos, misto de dança e arte marcial, para a saúde: “Antes, quando era sedentário, sentia o corpo pesado e menos disposto para as atividades diárias. Agora, perdi peso e percebo uma melhoria até no sono”, enumera o estudante de Contabilidade, praticante há cinco meses.
As aulas não prezam apenas pela parte prática, com as famosas rodas, como também promovem imersões pela história das influências africanas na arte. O grupo é comandado pelo Mestre Tunico, do Capoeira Angola Arte É Cultura, com 35 anos de experiência: “Procuro transmitir para eles as danças congada, maculelê, além da puxada de rede e do samba duro e de roda, com uma explicação sobre os seus fundamentos ao fim de cada prática”, explica.
Dança do ventre – A procura pelas aulas de dança do ventre na Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Arte, no Altiplano, às terças e quintas, foi tão grande que foi preciso abrir uma segunda turma, às quartas (ainda com inscrições abertas) para dar conta da demanda. Para a arte-educadora Marina Mendes, de apenas 21 anos, esta é a oportunidade de inverter de posição – de aluna de oficina para professora. Mais do que isso: foi a chance de ver as vidas das mulheres mudarem pela transformação que atividade física mais a socialização provocam na autoestima. Não à toa a oficina se chama Mudando de Vida.
Trinta e oito alunas de 13 a 58 anos aprendem os movimentos ondulatórios dos quadris e abdome e a dominar as técnicas respiratórias e giros que fazem desta uma das danças mais sensuais de todos os tempos. As alunas também aprendem as danças folclóricas sadi e khagee, que “convivem” numa mesma performance. “Em seis meses é possível aprender as posturas básicas, mas para avançar é preciso aprender todo dia”, assegura Marina, que cita como ganhos imediatos o fortalecimento das pernas, coxas e pélvis, a tonificação da musculatura e a perda da flacidez.
“Já emocionalmente os ganhos são ainda maiores, com maior relaxamento, entrosamento e disposição”, acrescenta. Prova disso são os relatos de gente como a artista plástica Adriana Carvalho, de 38 anos, que aos poucos, foi ganhando em qualidade de vida o que perdeu em sedentarismo. “Eu estava parada há 16 anos, quando engravidei. Desde então, havia engordado 20 quilos e lidava com problemas como depressão, transtornos alimentares e confiança zero”, conta. A dança surgiu como uma alternativa à academia, a que ela sempre se mostrou avessa. “Eu não me adaptava às séries e sempre lembrava com saudade da dança. Depois da oficina, consegui perder 9 quilos e até entrei na ioga, abraçando de vez o estilo de vida saudável”, diz.
Oficinas culturais – Projeto da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), as oficinas culturais de bairros contemplam, entre outras, atividades de artesanato, cultura popular, culinária, artes cênicas e visuais, dança, educação ambiental, literatura e música. O projeto beneficia uma média de 600 pessoas, entre crianças e jovens de diversos bairros da capital, atuando na propulsão da vocação artística e cultural de cada comunidade. “Estar à frente de um programa que promove o protagonismo social e melhora a vida das pessoas – muitas vezes em áreas que historicamente sempre enfrentaram graves problemas – é muito gratificante”, salienta Gabriela Marques, assessora pedagógica da fundação.