Paula e Viviane Senna chegam para abertura do III Festival de Música Clássica

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Dina Melo

RETRATOS PAULINHA LALLI Foto: Gustavo Scatena / Imagem Paulista

RETRATOS PAULINHA LALLI
Foto: Gustavo Scatena / Imagem Paulista

A compositora Paula Senna Lalli, filha de Viviane e sobrinha do tricampeão de F1, Ayrton Senna, chega junto com a mãe a João Pessoa na próxima semana para assistir à abertura do III Festival Internacional de Música Clássica, marcada para o dia 29, às 19h, na Igreja São Francisco. A razão é especial: Paula compôs uma das músicas que serão tocadas pela primeira vez pela Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa (OSMJP), chamada “A Criação do Dia”.

Além de compor, a jovem toca piano, é artista plástica multimídia e, a partir de 2016, viaja para Boston, nos Estados Unidos, para se aperfeiçoar. Nesta entrevista, concedida a Paulo Gazzaneo, um dos coordenadores artísticos do evento, ela destrincha sobre as suas inspirações, a ansiedade pela estreia da peça, a admiração pela cultura paraibana, o trabalho ao lado da mãe no Instituto Ayrton Senna e as aspirações para o futuro.

O Festival é realizado pela Prefeitura de João Pessoa, por meio da sua Fundação Cultural (Funjope), com o patrocínio do BNDES.

Entrevista

Paulo Gazzaneo – Pode nos falar um pouco sobre o título da sua peça, “A Criação do Dia”?

Paula Lalli – A minha inspiração foi retratar o Sol e o advento da criação do dia como um grande acontecimento mítico e cíclico de ressurreição da estrela-mor: o Sol nasce, cria consigo o dia, cumpre a sua função (permitir a vida na Terra) e “morre”, indo para um mundo noturno de sombras. Quis representar aqui uma grande integração entre o Sol e a Terra, os aspectos telúricos e celestes.

PG – Quais são as características desta peça e de sua música em geral? 

PL – Além de compositora musical, sou artista visual e antropóloga. Acho que essa conjunção me influenciou bastante na hora de criar. Dificilmente uma ideia surge sem já ter aspectos sonoros, visuais e de sentido ao mesmo tempo. Assim, normalmente minhas músicas tratam de assuntos que são como narrativas dentro de mim, que estou descobrindo. Ao mesmo tempo, o meu lado “antropóloga” tenta ressignificar todos esses elementos, reconhecê-los e entender seu contexto simbólico.

PG – Você já conhecia o Festival Internacional de Música de João Pessoa?

PL – Sim, já ouvi muito a respeito, e assisti apresentações pela Internet que me deixaram impressionada. Mas esta será a primeira vez que terei o privilégio de participar pessoalmente.

PG – A sua peça é dedicada à OSMJP, ao povo da Paraíba e ao Festival…

PL – Quando a criação dessa obra me foi proposta, fiquei extremamente honrada. Acredito na grandeza do povo paraibano, nordestino e brasileiro. Não a toa que tantos compositores e artistas que admiro vieram da Paraíba ou foram influenciados pela sua cultura. A conexão que se tem com a terra é algo que admiro profundamente, que ressoa em mim, e com a qual busco me conectar. Há aí uma grandeza, e é esta grandeza que eu busquei retratar na música. Como vai ser a estreia, vou ouvir junto com o público qual foi o resultado final do meu trabalho; espero que dê tudo certo, pois fiz com muito amor.

PG – A sua família é conhecida pelo automobilismo e o trabalho educacional do Instituto Ayrton Senna. Como você se vê dentro desse contexto?

PL – Umas das mais importantes lições que minha família me ensinou é que a gente faz melhor quando coloca em ação a nossa verdadeira natureza, com muito amor. E que quando fazemos isso, coisas incríveis podem acontecer. A gente deveria sempre colocar o nosso melhor no mundo, e o que é isso, senão o nosso melhor talento? Eu sou artista. Mas todos os valores humanitários que eram da família, e foram engendrados pelo Ayrton, pela minha mãe e irmãos, vieram para mim. Tenho grande paixão por causas humanitárias, e por isso sempre me envolvi em muitas iniciativas de impacto positivo no mundo, como no Instituto Ayrton Senna, do qual sou parte do conselho e representante.

PG – A Prefeitura de João Pessoa desenvolve o projeto Ação Social pela Música do Brasil, destinado a jovens carentes. Qual avaliação você faz de ações sociais que utilizam a música como ferramenta de inclusão?

PL – Acredito ser um trabalho extremamente positivo. Apóio totalmente essas iniciativas. Existem inúmeros benefícios em todas as atividades extra-curriculares que possam ser oferecidas de apoio a crianças e jovens, que trazem um impacto enorme na sua formação cognitiva e emocional – mesmo para aqueles que não vão se tornar especialistas. Foi algo que experimentei pessoalmente e acompanhei no instituto.  

PG – Qual sua opinião a respeito do trabalho do maestro Laércio Diniz, que conduzirá sua peça a frente da OSMJP?

PL – Tenho uma profunda admiração e gratidão pelo trabalho do maestro Laércio Diniz. Ele é uma força motriz no Brasil, gerando cultura de altíssima qualidade e tornando-a acessível ao povo, dando oportunidade aos novos compositores brasileiros, inovando com uma abertura e generosidade que são raras e preciosas,  e talvez fundamentais ao desenvolvimento da nossa cultura. Temos um privilégio de ter alguém como ele gerando talento, nos enriquecendo com seu exemplo de liderança positiva, e de ter um brasileiro como ele nos representando ao redor no mundo.

 PG – Quais seus planos musicais para o futuro?

PL – Tenho diversas peças em processo de produção, algumas para orquestra e outras para formações menores. Meus planos são completá-las e gravar outras para piano-solo, tornando-as disponíveis depois para o público.