Programa de Aquisição de Alimentos assegura permanência de famílias na zona rural
Mônica Melo
A agricultora Adriana Bento da Silva não deseja outra vida. Nasceu, cresceu, hoje cria seus filhos no campo e não consegue se imaginar em outro lugar. “Quando preciso ir às feiras na cidade, eu volto de lá doente. É barulho, carro passando, gente gritando, prefiro aqui, aqui é bom demais”. Adriana é moradora de um dos 409 imóveis rurais instalados no Cinturão Verde de João Pessoa.
Ela, o marido e dois filhos cultivam alface, coentro, rúcula, couve, pimentão, feijão, macaxeira e milho em uma área de 3,5 hectares, tudo pelo sistema de agricultura orgânica, e se orgulham muito disso. “Não penso em sair da agricultura, só em plantar, colher e botar no fogo me deixa feliz. Se preciso de algo é só ir ao quintal e pegar um coentro ou jerimum para o almoço. Também levo os produtos à feira para encher a barriga do pessoal, muita gente não dá valor, mas sei que o nosso trabalho é muito importante”, afirmou a agricultora.
Adriana conta que desde 2013 as coisas vêm melhorando muito para os agricultores pessoenses. Isso, em parte graças ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), uma parceria entre o Governo Federal e a Prefeitura, através do qual toda a produção já tem destinação certa. A agricultura familiar é basicamente uma agricultura de subsistência e apenas o excedente de produção é comercializado. Agora o excedente, além das feiras, também é escoado através do PAA para abastecer Creis, escolas, restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bem como outros mecanismos da política de segurança alimentar municipal. Atualmente 108 agricultores familiares de João Pessoa são cadastrados no Programa.
A oportunidade de produzir seu próprio alimento também é considerado um dos maiores encantos da vida no campo, mas não o único, para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de João Pessoa, Walter Joaquim de Souza. “O mais gratificante é você produzir seu próprio alimento, ou boa parte do que consome, você faz com carinho, sabe que é um alimento mais saudável. Já com a venda certa do excedente temos como investir em nossas propriedades”, disse.
Atualmente ele cultiva macaxeira, acerola, milho e feijão e jerimum, além de plantas nativas, como jaca e caju, junto com a esposa e filha. Walter é filho e neto de agricultores e aprendeu com eles a cultivar alimentos. Ele conta que agora, a filha de 15 anos demonstra interesse em cursar a faculdade de ciências agrícolas ou agronomia, dando continuação a tradição e a paixão pela terra que vem atravessando gerações da família. “É bom não ter que sair daqui para melhorar de vida, poder melhorar dentro da atividade agrícola. Tentamos fazer com que as pessoas se mantenham aqui, nos dias de hoje é melhor viver no campo”.
Essa também é a opinião de Edmilson Alves da Silva, natural de Gurinhém e acostumando a lidar com agricultura desde a infância. Ele ainda tentou a vida na cidade como ajudante de cozinha em um restaurante, mas o amor pelo roçado falou mais alto e há 17 anos ele cultiva alface, coentro, rúcula, couve, pimentão, feijão, macaxeira e milho na própria terra.
Ele é mais um a elogiar o PAA. Para ele facilita bastante a vida do produtor rural ter uma destinação certa para o que produz. “Às vezes você não tem como vender tudo na feira e estraga. A gente reutiliza o que estraga, volta de novo para terra, já que a produção é toda orgânica, mas é melhor que não estrague. O sindicato leva para os caminhões e vende tudo, a procura é grande”. Há três anos, graças ao recurso gerado pelo PAA ele conseguiu cavar um poço e colocar um sistema de irrigação na propriedade, prosperando no campo. “Sair daqui, jamais. É de onde eu tiro meu sustento, aqui é tranqüilo demais, isolado, dormimos de porta aberta, eu me criei na roça, trabalhei quatro anos fora e agora que voltei, quero sair mais não. Os meninos gostam muito e não sentem falta da cidade”.
O cinturão verde de João Pessoa é concentrado na zona sul e boa parte é área de preservação. Os produtos mais produzidos são coco, jaca, e caju, além de outras frutas nativas. Coisas mais nativas nascem e a gente preserva e dá pra comercializa, caju. A maioria dos 409 imóveis rurais tem entre um e três hectares e cerca de 80% estão nas mãos de agricultores familiares.