Unidade de acolhimento infantil ajuda na recuperação de adolescentes usuários de drogas
Lilian Pedreira e Alberjio Neto
“Eu usava vários tipos de drogas: maconha, cocaína e outras. A primeira vez que eu usei, eu estava com alguns amigos numa praça lá no Bairro do Grotão”. Este é o relato de Mateus, um adolescente de 16 anos, que atualmente vive na Unidade de Acolhimento Infantil (UAI) da Secretaria de Saúde de João Pessoa (SMS), destinado ao tratamento de menores usuários de drogas.
Para preservar a identidade dos adolescentes, vamos identificá-los com nomes fictícios para a matéria. Mateus conta que parou de estudar na quarta série e seu contato com as drogas foi desde criança. Pela quinta vez, está recebendo o tratamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
“Eu não lembro com qual idade eu comecei a usar, mas quando comecei o tratamento aqui, eu fiquei durante quatro meses e saí por conta de brigas com os colegas internos. Da segunda até a quarta vez, eu não consegui passar muito tempo. Agora, eu vou tentar concluir o tratamento”, afirmou Mateus.
O adolescente contou ainda que o tratamento vem dando certo e, por isso, já faz planos para o futuro. “Eu quero ser policial e pretendo constituir uma família. Sonho também em ter um meu próprio carro e uma casa confortável”, afirmou.
Quem vê de fora não imagina que, há mais de dois anos, naquele ambiente que aparenta ser uma casa convencional, trabalham pessoas que proporcionam mais qualidade de vida aos inúmeros adolescentes atendidos no serviço, dando novas oportunidades e dignidade aos usuários que estavam no mundo das drogas e espontaneamente procuraram ajuda.
A Unidade de Acolhimento Infantil (UAI) fica no bairro do Cristo com serviços funcionando 24 horas por dia. A unidade possui capacidade para acomodar 10 usuários, podendo ser acomodados sete homens e três mulheres. Atualmente estão em atendimento três garotos com idades maiores que 13 anos.
Para funcionamento, a unidade não deve possuir fachadas ou placas de identificação, mantendo a discrição do serviço e a integridade dos usuários.
“Desta forma, evitamos também que haja preconceito por parte da vizinhança, além de proporcionar maior segurança, já que alguns dos adolescentes vêm de um convívio com drogas e violência”, ressalta Benilde Ramos, assistente social do serviço.
Acesso – Para utilizar o serviço, os adolescentes precisam ter entre 12 a 18 anos incompletos e passar pelo Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (Capsi). No Centro, os pacientes são submetidos a acompanhamento multiprofissional e, se necessário de um maior cuidado, ele será encaminhado para a Unidade de Acolhimento Infantil.
“Aqui nós fazemos um tratamento de modo integral com o dependente químico, atuamos com um regime de internação e realizamos desde a inserção do mesmo em práticas integrativas, até a administração de medicamentos, quando receitado pelo médico. Aqui, os adolescentes ficam sob nosso cuidado integral no período de três a seis meses, de acordo com a necessidade de cada caso,” explica a assistente social.
Para auxiliar no método de desintoxicação, o serviço conta com uma equipe formada por assistente social, psicóloga, enfermeira, além de oficineiros, que auxiliam nas práticas de atividades de teatro, música, grafite e outras atividades lúdicas e recreativas. Quando há necessidade de atendimento ou intervenção médica, os usuários são encaminhados ao Capsi.
O adolescente Pedro, de 15 anos, que desde os oito anos de idade teve contato com maconha, numa roda de amigos no bairro onde morava fala que sua prima e irmão também usavam drogas, mas ele nunca se sentiu influenciado.
“É comum, em alguns bairros, as crianças terem contato com a droga muito cedo. Quando pequeno, no meu caso, via meus familiares usando ou até pessoas conhecidas caminhando na praça com algum baseado. Eles até tentavam não usar na minha frente, mas nessa época eu já conhecia a droga”, contou o menino.
Mesmo frequentando todas as atividades ofertadas pelo serviço de saúde, o menor assume que sente vontade de usar a droga, mas que vem percebendo melhorias na sua vida e não perde a fé no seu objetivo. “Dessa vez eu vou fazer tudo bem direitinho e, se Deus ajudar, eu vou mudar de vida e largar o vício, ainda sou muito novo e tenho muita coisa para aprender”, relata o adolescente.
Convívio – A aproximação decorrente do cotidiano entre funcionários e adolescentes é tão natural que é possível perceber o respeito e o afeto em pequenos gestos entre usuários e prestadores de serviços na Unidade.
“Aqui no UAI temos um caso de um garoto reincidente de 12 anos que está sendo acompanhado e já providenciamos a matrícula dele na escola várias vezes. Enquanto ele esteve sob nossos cuidados ele tinha assiduidade na escola. Quando ele voltou para casa, abandonou os estudos. Então fazemos um trabalho e damos assistência aos pais, orientando como prosseguir e ajudar na educação do filho, para que não haja recaída e os filhos continuem sendo estimulados a continuar no tratamento, mesmo fora da Unidade,” explica Benilde Ramos.
Os familiares de adolescentes assistidos no serviço podem realizar visitas nas terças-feiras, das 10 às 11, e nas quintas e domingos no período das 14 às 15h.
Medidas Socioeducativas – O centro também recebe pacientes que cumprem medidas socioeducativas por determinação judicial, no Centro Educacional do Adolescente (CEA). Como é o caso de Tiago, de 12 anos, que passou 36 dias sob os cuidados dos profissionais do serviço, cumprindo medida protetiva pelo ato infracional de roubo e tráfico.
Assim como em muitos casos, o menor também tem exemplos de casa, com familiares que são usuários de drogas. “Desde os dez anos eu uso drogas. Na minha primeira vez, eu fumei uma piola que estava no chão da minha casa e a curiosidade se tornou vício”, comentou.
Atualmente, o menor está recebendo os cuidados da UAI e há quatro dias tenta, pela terceira vez, concluir o tratamento. “Não é fácil. Eu estou aqui porque quero me tratar, não consegui das outras vezes porque algumas vezes a gente acaba se desentendendo com outros adolescentes, que estão na mesma situação de abstinência,” completa o adolescente. O menor diz ainda que, quando se recuperar e concluir o tratamento, pretende terminar os estudos e ser montador de móveis, como o seu pai.
Parceria – Para dar continuidade aos trabalhos educativos e de formação técnica profissional, a Unidade pretende realizar convenio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) buscando atividades de qualificação para os que estão inseridos no programa de reabilitação.
Para outras informações sobre os serviços ofertadas pela Unidade, os interessados devem procurar o Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (Capsi), localizado no bairro do Roger.
Serviço: Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil
Endereço: Rua Gouveia Nóbrega
Telefone: 3214-6079
Horário Funcionamento: 7 h às 17 h