Caps AD dispõe de equipe multidisciplinar para atender dependentes de álcool e outras drogas

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Thibério Rodrigues

foto.Ivomar Gomes Pereira (34)Fábio Guilherme de Morais, 43 anos, é poeta e escritor, casado há 18 anos e tem um filho de 15 anos de idade. Aparentemente uma vida sem grandes problemas, mas ainda na adolescência, experimentou bebida alcoólica, o que mais tarde o levou a ser um dependente do álcool e acarretou em perdas pessoais e profissionais.

“Comecei a beber por volta dos 14 anos, mas me entreguei ao álcool em torno dos 30 anos. No início eu lidava com a bebida de forma moderada, mas fui bebendo cada vez mais e isso começou a trazer problemas à minha saúde, ao trabalho e às minhas relações sociais”.

O poeta recorda que num determinado dia bebeu de tal forma que não queria mais continuar neste caminho e resolveu buscar ajuda. Foi quando procurou o Centro de Atenção Psicossocial sobre Álcool e Outras Drogas (Caps AD). O serviço da Rede Municipal de Saúde de João Pessoa atende e realiza o tratamento de portadores de transtornos mentais decorrentes do uso e dependência do álcool e múltiplas drogas, oferecendo desintoxicação leve.

De acordo com a diretora do Caps AD, Fátima Miranda, a finalidade do serviço é o tratamento, a recuperação e ainda a reinserção social dos usuários.  “Eles ficam no tratamento até conseguirem sua autonomia de volta e ter uma vida normal com o trabalho e a família”, disse.

Para o tratamento dos usuários, o serviço conta com o trabalho de uma equipe multiprofissional formada por médico psiquiatra, médico clínico, farmacêutico, enfermeiro, técnico em enfermagem, psicólogo, assistente social, educador físico, arteterapia e oficineiros.

A diretora do serviço explica que a demanda é espontânea ou encaminhada. Ou seja, tanto a pessoa pode procurar por conta própria ou é encaminhado por outro serviço da Rede Municipal de Saúde, como o Pronto Atendimento em Saúde Mental (Pasm), Consultório na Rua, Ruartes, casas de acolhida e Unidades de Saúde da Família (USF).

O local recebe usuários a partir dos 18 anos de idade, com atendimento de atenção dia ou atenção 24 horas. “Ao ingressar no serviço, a pessoa passa por uma triagem chamada de escuta qualificada, atendimento psiquiátrico e, dependendo da situação clínica ou nível de intoxicação, é admitido no atendimento 24 horas ou no atendimento dia”, explicou.

foto.Ivomar Gomes Pereira (25)De acordo com ela, o tratamento de desintoxicação tem duração média de 14 dias, e depois o usuário passa para o atendimento dia, onde participa das atividades, escuta multiprofissional, atenção clínica e psiquiátrica, além da alimentação do dia, incluindo café da manhã, almoço e jantar. “Nesse período a gente faz o resgate dos vínculos familiares cortados e a reinserção social’, comentou Fátima.

Projeto Terapêutico – No serviço são desenvolvidas atividades como arteterapia, teatro de rua, oficina de redução de danos, atividades físicas, aula de música, educação em saúde, visita domiciliar e grupo de famílias.

“Desenvolvemos a arte como expressão mais interna do ser. Dessa forma, é possível trabalhar os traumas, complexos, medos, inclusive o que os levou ao vício. Buscamos despertar nos usuários a sensibilização e a expressão artística”, explicou Fabiana Balbino, arteterapeuta do serviço.

No local é desenvolvido um projeto terapêutico singular, de acordo com o caso de cada usuário. “É realizada uma avaliação quinzenal de como está a situação do usuário”, disse a diretora do Caps AD.

O trabalho se estende às famílias, que também recebem apoio terapêutico. “Eles já trazem uma desestruturação familiar, vêm cheios de sofrimento e carências afetivas. Tudo isso está ligado a perdas e questões familiares”, afirmou.

Com esse trabalho desenvolvido no serviço, o escritor Fábio Guilherme consegue se recuperar aos poucos. “Aqui nós ajudamos um ao outro. Temos um acordo de convivência, onde há o respeito à individualidade e dificuldades do outro”, disse Fábio.

“Estou sóbrio há três anos, mas é um trabalho contínuo, em que estamos propensos a pequenas recaídas. O que precisamos fazer é levantar a cabeça e retomar nossa vida. Posso dizer que hoje o álcool não é um problema pra mim”, concluiu.

Política do Ministério da Saúde – De acordo com o Ministério da Saúde, aproximadamente 20% dos pacientes tratados na rede primária bebem em um nível considerado de alto risco, pelo menos fazendo uso abusivo do álcool. Estas pessoas têm seu primeiro contato com os serviços de saúde por intermédio de clínicos gerais. Apesar disso, estes poucos detectam a presença de acometimento por tal uso, o que tem repercussão negativa sobre as possibilidades de diagnostico e tratamento.

O Ministério da Saúde implantou em 2002 o Programa de Formação e Capacitação de Recursos Humanos Voltados para a Atenção aos Usuários de Álcool e Drogas na rede SUS, com a realização de cursos nos formatos de especialização, atualização e informação técnica, pensados para ocorrer de forma norteada pela implantação e implementação das redes assistenciais locais.

Da mesma forma, foi implantado o Programa de Formação de Recursos Humanos Para a Reforma Psiquiátrica, o qual contempla profissionais que trabalham nas redes de atenção à saúde mental e saúde básica, com o mesmo formato para os cursos oferecidos. Estes abordam a questão de álcool e drogas dentro de uma perspectiva ampliada de saúde mental.

Serviço – Inaugurado em fevereiro de 2010, o Caps AD passou a funcionar 24 horas em dezembro de 2011. O serviço fica localizado na Rua José Soares, s/n, Rangel, e possui 10 leitos de internação, sendo sete masculinos e três femininos.

Aproximadamente 80% dos casos atendidos no local são homens e 20% são mulheres. Em relação à faixa etária, cerca de 40% dos casos são pessoas de 18 até 35 anos, 30% de 35 a 49 anos e o restante a partir dos 50 anos. Desde o início do funcionamento, já forma cadastrados mais de 1,7 mil usuários e, desses, mais de 800 ainda retornam ao local para acompanhamento.