Cuidadores oferecem suporte para crianças com necessidades especiais

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Mônica Melo

CuidadoresparacriançasEspeciais_FotoGilbertoFirmino (49)Dar à luz uma criança especial mudou a vida de Maria Eugenia Santana Neta de formas que ela nunca poderia imaginar. Além dos desafios cotidianos entre os cuidados com o bem-estar e a luta pela inclusão, tornar-se mãe de uma criança surda deu a ela uma profissão. Maria Eugenia atualmente integra a equipe dos 283 cuidadores contratados pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) para acompanhar crianças com necessidades especiais no ambiente escolar.

Maria Eugenia trabalha há quatro anos como cuidadora. Ela conta que com a descoberta da surdez do filho, pensou que fazer o Curso de Cuidador oferecido pela Prefeitura, a ajudasse a encontrar a forma adequada de lidar e estimular a criança. Durante o curso, Maria Eugenia descobriu que ali estava sua vocação e se profissionalizou. Atualmente, ela acompanha duas crianças autistas e uma com atraso de desenvolvimento provocado pela hidrocefalia.

O cuidador não é um professor e não interfere na didática. A sua função é manter o aluno em sala de aula e dar suporte em tudo que a criança precisar enquanto permanecer na unidade de ensino, até mesmo ajudar nas atividades de classe. “Algumas crianças têm dificuldade em ficar quietas e concentradas em sala de aula, outras vezes apresentam algum grau de agressividade e é complicado para o professor lidar com ele e ainda cuidar do restante da turma”, explica Maria Eugênia.  Ela se diz encantada em cuidar de autistas e por isso tem procurado se aprofundar no estudo sobre o distúrbio. “A formação promovida pela Prefeitura foi muito boa. Eu não sabia nem que essa função existia, mas quando eu soube e entendi do que se tratava, senti o chamado para trabalhar com isso”.

CuidadoresparacriançasEspeciais_FotoGilbertoFirmino (115)De acordo com o coordenador de Educação Especial da Prefeitura de João Pessoa, André Louis de Carvalho, todos os cuidadores passam por treinamento e recebem orientação de um psicólogo. Cada cuidador pode se responsabilizar até por três crianças, dependendo da necessidade de cada uma. Os casos são estudados individualmente para ver se o aluno necessita de atenção exclusiva, os cuidadores apenas não atendem crianças surdas, pois elas já são acompanhadas por intérpretes especializados em Libras.

Inclusão garantida – Para muitas mães de crianças com alguma deficiência ou transtorno, a dificuldade na educação começa em conseguir matricular o filho em uma escola regular, já que muitas escolas particulares rejeitam alunos que necessitem de atenção especial, mesmo que os pais se comprometam a contratar um cuidador para acompanhar o aluno. Na Rede Municipal de Ensino, as crianças são aceitas, incluídas e é dado o encaminhamento necessário imediatamente no ato da matrícula.  Dependendo do diagnóstico da criança, ela pode ter uma maior tendência de se machucar ou não sabem como avisar que precisam usar o banheiro, por isso torna-se inviável que ela estude sem esse suporte.

“Jamais deixaria meu filho na escola sem um cuidador. Ele é autista e hiperativo, não tem noção de perigo de nada. O cuidador é essencial para qualquer criança com alguma deficiência. O autista não tem noção de que pode se machucar ou que pode machucar um colega sem querer, por exemplo”,  confirma Valdecir Rodrigues dos Santos, mãe de Henrique, de 9 anos, um dos alunos com necessidades especiais da Escola Municipal José Eugênio Lins de Albuquerque, no Geisel.

Valdecir explica que além de transmitir segurança para as mães, o cuidador ajuda o professor e aos demais alunos a entenderem o comportamento diferenciado ou tratamento especial que algumas crianças necessitam.“Temos que confiar no cuidador. O Henrique antigamente se machucava muito. Hoje ele não chega mais machucado da escola. Antes ele não conseguia parar quieto em sala de aula e ficava correndo pelos corredores, hoje ele assiste aula normalmente”, comemora a mãe.CuidadoresparacriançasEspeciais_FotoGilbertoFirmino (207)

Extensão da mãe – Outra mãe que não teria condições de deixar o filho na escola sem o apoio do cuidador é Luciana Cristina do Nascimento Bezerra. Ela é mãe de Tauane, de 5 anos, também aluna da Escola Municipal José Eugênio Lins de Albuquerque. Com Transtorna do Expectro Autista (TEA), Tauane não fala, não consegue alimentar-se sozinha e precisa ser levada ao banheiro a cada duas horas, pois ela não consegue nem ir sozinha e nem avisar que precisa. “A professora não tem condições de fazer isso. Não pode interromper a aula para levá-la ao banheiro em intervalos regulares. Ela também precisa de apoio para comer e fazer as tarefas”, relata a mãe. “A adaptação não foi fácil, mas a cuidadora é fundamental para que ela permaneça na escola”.

Necessidade de suporte para evacuar é um tema recorrente entre as crianças que precisam de cuidadores. Alguns usam fralda e os cuidadores são responsáveis pela troca. “O cuidador é a extensão da mãe e só me sinto segura com a sua presença. Confio na professora, mas sei que ela não tem como deixar os demais para se dedicar só a minha filha, que precisa de cuidados extremamente especiais”, conta Joelma Gabriel Costa de Oliveira, mãe de Mirella, 10 anos, que tem paralisia cerebral e dificuldade motora. “A cuidadora tira um grande peso das nossas costas e consegue criar um vinculo de confiança com a criança e conosco”, conclui.

Na Escola Municipal José Eugênio Lins de Albuquerque estudam atualmente 26 crianças que necessitam de acompanhamento, entre eles três cadeirantes e seis autistas. E os cuidadores são fundamentais para ajudar todas essas crianças a se integrarem e se sentirem acolhidas no ambiente escolar. “A exclusão está na cabeça do adulto, as outras crianças costumam acolher com naturalidade sem nem pensar muito nos assunto, só precisam ser orientadas”, defende a professora da sala de recursos, Francicleide Oliveira dos Santos.

Para ela, os cuidadores são imprescindíveis para deixar a todos confortáveis e tranqüilos no ambiente escolar, tendo a certeza de que essas crianças têm todo o suporte que necessitam.