PMJP estimula inclusão e autonomia de estudantes surdos na rede municipal

Por Nayanne Nóbrega - em 2788

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Fazer compras, ir a uma consulta médica, realizar uma operação bancária são tarefas comuns e fáceis para a maioria da população. Para os surdos se trata de um desafio e tanto, já que são poucas as pessoas que aprenderam Libras, a Língua Brasileira dos Sinais. No Dia Nacional da Educação de Surdos, 23 de abril, a Secretaria Municipal de Educação (Sedec) ressalta a importância da inclusão e autonomia dos estudantes surdos na rede municipal, composta atualmente por 115 alunos.

Única surda na família, Rebeca Félix, 13 anos, estudante do 6º ano da Escola Municipal João Santa Cruz, no bairro dos Novais tinha dificuldade para participar das conversas em casa. Hoje essa realidade mudou.

“Eu não sabia me comunicar com minha filha, tínhamos apenas um pouco de comunicação caseira. Hoje ela tem me ensinado um pouco de Libras e no dia a dia eu consigo entender quando ela gostou da comida, se ela está doente ou querendo algo. A escola foi e tem sido fundamental para nossa interação familiar”, revelou Rosilene Félix da Silva, mãe de Rebeca.

Para ela a integração entre surdos e ouvintes – termo usado pelos deficientes auditivos para descrever quem escuta – deve ser sempre estimulada. “Nunca nem tentei matricular minha filha numa escola privada porque sempre eles dão uma desculpa e não aceitam o aluno. Sinto orgulho em afirmar que ela foi alfabetizada em Libras pela escola pública e consegue se comunicar bem com os outros alunos. Hoje ela sabe escrever, se comunicar e tem certa autonomia nas atividades do cotidiano. Já sabe se virar sozinha”, completou Rosilene.

Sonhos Possíveis –Alexander Graham Bell, inventor do telefone, Jonathan Swift, escritor do romance “As Viagens de Gulliver” e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton possuem uma característica em comum, além de destaque no cenário mundial: têm deficiência auditiva. Assim como eles, os estudantes surdos da rede municipal planejam o futuro profissional.

A estudante Rebeca Félix tem o sonho de se tornar médica para ajudar outras pessoas com dificuldade auditiva. “Quero ser médica para poder desenvolver mais os trabalhos com os surdos e ajudá-los, vou me especializar nessa área. Tenho me esforçado para isso, com boas notas”, afirma a jovem.

Eduardo Laruite é estudante da rede municipal há 11 anos e quer se tornar professor de Libras. “Quero incentivar outros surdos a crescer e a aprender a linguagem de sinais com mais facilidade. Assim como tiveram paciência comigo e me ensinaram, quero poder ajudar outras pessoas que sofrem com a surdez. Também gosto muito de matemática e penso em fazer algo nessa área”, contou.

Intérpretes em sala de aula – A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), por meio da Secretaria de Educação e Cultura (Sedec) possui 43 intérpretes, professores e instrutores surdos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) que atuam nas escolas da rede pública de ensino, através do Programa Bilíngue Fazendo a Diferença pelo Diferente, existente desde 2009. Atualmente, há dois Centros de Referência de Educação Infantil (Creis) que atendem crianças com deficiência auditiva.

A professora de Libras e surda, Luana Silveira considera a Lei 10.436, que reconheceu a Libras como a Língua Brasileira de Sinais um avanço importante. “Criada há 15 anos, essa Lei proporcionou conquistas importantes para os surdos, como a inclusão desses alunos na educação. Acessibilidade é necessário para o convívio em sociedade e com a lei melhorou muito. Hoje podemos abordar vários temas em sala de aula através da linguagem dos sinais”, avaliou.

De acordo com a assessora pedagógica na área de surdez da Sedec, Rosângela Melo, a presença do intérprete em sala de aula é essencial. “Se não tem o intérprete em sala de aula, não há de fato uma inclusão. Esse profissional é a voz do professor e a voz da pessoa surda, seja através da língua oral ou de gestos. O intérprete desenvolve a autonomia desses alunos. Nossa preocupação é que esses estudantes saiam da rede municipal com uma boa base que os façam chegar até uma universidade. Temos professores surdos que são exemplos para os alunos. No passado, essas pessoas sentiram na pele a falta de inclusão”, destacou.

Na Paraíba – Em 2011, o Governo Federal instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – o Plano Viver Sem Limite; com o objetivo de articular políticas intersetoriais para garantir a inclusão social, a acessibilidade, o acesso à educação e a atenção à saúde das pessoas com deficiência.

A Paraíba possui uma população de 6.470 pessoas com deficiência auditiva, apenas na Capital são 1.226 pessoas, de acordo com os dados da última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o quantitativo de pessoas com deficiência auditiva é ainda maior se observarmos a população que possui algum tipo de dificuldade auditiva, o número sobe para 181.762 pessoas na Paraíba e 30.011 na Capital.

No Brasil, por exemplo, estima-se que existam cerca de 15 milhões de pessoas com algum tipo de perda de audição e percebe-se a grande dificuldade no que diz respeito a relacionamentos e socialização.