Caps Gutemberg Botelho realiza atividades em alusão à Semana Nacional de luta Antimanicomial

Por Thadeu Rodrigues - em 1994

D R T . R J. 15855.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da área técnica de Saúde Mental, realiza ações de conscientização na Semana Nacional de luta Antimanicomial. A programação ocorre nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da Prefeitura Municipal de João Pessoa. No Caps III Gutemberg Botelho, no Bairro dos Estados, que atende 750 usuários, a programação inclui apresentações musicais, uma mostra de fotografia e a realização de serviços de beleza aos usuários.

Nesta terça-feira (15), a programação consta de apresentações dos participantes das oficinas de música e uma exposição de fotografias. Ontem, foram realizados diversos serviços de beleza, com corte, escova, manicure, maquiagem e limpeza de pele.

O Movimento da Reforma Psiquiátrica teve início no final da década de 1970 e, em 18 de maio, completa-se 31 anos da comemoração do Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Para a diretora do Caps Gutemberg Botelho, Sandra Carvalho, a estrutura da rede municipal da Capital atende às necessidades dos usuários e permite a criação de vínculos, na lógica inversa à do manicômio.

“O paciente em crise pede para vir para cá e, mesmo sem a crise, gosta de vir para participar das atividades. Participamos de uma audiência pública, na semana passada, e um usuário deu um depoimento de que o que recebe de mais importante no Caps é ‘respeito, humanização, carinho e cuidado’, e isto traduz nossa forma de trabalhar”, contou.

Um usuário de 35 anos partilha da mesma opinião. Ele conta que foi interno em um hospital psiquiátrico durante 15 dias por causa de transtornos mentais, mas que encontrou um “bom lugar”, no Caps Gutemberg Botelho. “Eu encontrei acolhimento e respeito. Estou fazendo tratamento há dois anos e estou retomando minha vida, minha autonomia. Eu venho sozinho pra cá, saio para passear com minha esposa e participo das atividades da igreja”, comentou ele.

Juro que posso – Familiares dos usuários criaram um canal no youtube, o “Juro que posso”, para abordar o tema da luta antimanicomial. Leda Gomes, esposa de um dos usuários, conta que a iniciativa é para retribuir o acolhimento recebido no Caps. “Quando meu marido teve uma crise, nos sentimos como se estivéssemos à deriva, mas o Caps foi nosso salva-vidas”, destaca ela.

Para ela, é muito importante divulgar que “todo mundo pode ser feliz, independente dos transtornos”. O canal conta com dois vídeos, que podem ser conferidos pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=ZvCI-X0MGzk

Atendimento – O Caps Gutemberg Botelho funciona 24h, com seis leitos, sendo três femininos e três masculinos. O serviço é de porta aberta, sem necessidade de encaminhamento. O perfil de atendimento é de usuários com transtornos mentais graves e persistentes, com prejuízos sociais e que não conseguem trabalhar e estudar, nem ter convívio social. Os diagnósticos mais comuns são de esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar.

“Ao chegar ao serviço, há o acolhimento por profissional da equipe, que vai fazer a escuta para identificar o perfil. Com a triagem, fazemos o histórico do adoecimento, que pode ser feito pelo psicólogo, assistente social, psiquiatra ou enfermeiro. A partir disso, identificamos as oficinas indicadas para cada caso”, explica Sandra Carvalho.

Os dias de frequência dependem de cada usuário. “Alguns são atendidos todos os dias e passam o dia todo na unidade. Outros vêm alguns dias na semana, ou todos os dias, mas durante apenas um turno. Há uma singularidade no tratamento”, frisa ela.

Os serviços incluem consultas com psiquiatra, psicoterapia, consulta de enfermagem, disponibilização de até cinco refeições por dia (conforme a frequência), administração de medicamentos, atividades de educação física, oficinas artísticas e atividades terapêuticas sobre atualidades. “Temos oficinas de canto coral, percussão, violão e flauta, e de artes plásticas”, destaca Sandra Carvalho.

O Caps funciona por plantão noturno e aos finais de semana com enfermagem, psicologia, auxiliar de serviços gerais e segurança. Caso o usuário necessite de atendimento psiquiátrico em caráter de urgência, deve procurar o Pronto Atendimento em Saúde Mental (PASM), que funciona anexo ao Complexo Hospitalar de Mangabeira Governador Tarcísio de Miranda Burity – Ortotrauma, em Mangabeira.

Rede – A Rede de Atenção Psicossocial de João Pessoa é composta por quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps), leitos em hospital geral, Pronto Atendimento em Saúde Mental (PASM), Unidade de Acolhimento Infantil e Residências Terapêuticas. Ainda há serviço ambulatorial com psiquiatria na Unidade Básica de Saúde de Mandacaru, Unidade de Saúde das Praias e nos Centros de Atenção Integral à Saude (Cais).

Dia Nacional – O Dia Nacional da luta Antimanicomial foi instituído após profissionais da saúde mental organizarem o primeiro manifesto público a favor da extinção dos manicômios, alegando o tratamento desumano e cruel dado aos usuários do sistema. Isto aconteceu durante o II Congresso Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, realizado em 1987, na cidade de Bauru/SP.

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