Tratamento humanizado muda vida de pessoas atendidas pelos Caps

Por - em 7193

Oferecer oportunidade de tratamento diferenciado para que pessoas portadoras de transtornos mentais e com vícios em álcool e outras drogas tenham uma vida mais digna, livre e independente, longe dos hospitais psiquiátricos, é um dos principais objetivos dos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps). Em João Pessoa, a Prefeitura Municipal (PMJP) mantém quatro unidades de tratamento, sendo duas específicas para transtornos mentais, uma para tratar vícios em álcool e outras drogas e uma para o atendimento infanto-juvenil.

O município também conta com o Pronto Atendimento em Saúde Mental (Pasmen), para pacientes que necessitam de atendimentos urgenciais, no Hospital Trauminha, em Mangabeira. De acordo com Ana Luiza Castro, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), cada Centro tem a capacidade de atender em média 500 pessoas. “Os pacientes e famílias podem procurar o serviço de forma espontânea ou por meio de encaminhamento de um dos programas de serviços de assistência à saúde do governo municipal”, disse.

Segundo ela, quando chegam ao local, os usuários e familiares são atendidos por uma equipe multiprofissional composta por enfermeiros, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeuta ocupacional, técnicos de enfermagem, arte educadores, fisioterapeutas e artesãos, entre outros. “Estes profissionais são responsáveis por desenvolver um projeto terapêutico singular de cada paciente, de acordo com os gostos e necessidades individuais, para fazer com que o sujeito seja capaz de viver socialmente”, contou.

Equilíbrio – Diferentemente de um hospital psiquiátrico, no qual as pessoas geralmente chegam em crise, com surtos psicóticos e em completo desequilíbrio emocional, com necessidade de internação para receber atendimento médico-hospitalar, no Caps o tratamento é feito no intuito de devolver aos usuários o equilíbrio necessário para retornar ao convívio social. “Nos locais que funcionam 24h, existem leitos de acolhimento noturno, mas não é uma internação no sentido hospitalar. Os pacientes podem ficar até sentir que estão melhores para retomar as atividades do cotidiano”, especificou.

O tratamento dos usuários consiste na administração de medicamentos, quando necessário, e no acompanhamento psicológico e educacional. “Eles trabalham com artes em oficinas terapêuticas, participam de grupos operativos de consulta individual, terapia em grupo, música, dança, atividades físicas e muito mais. Acreditamos que essas pessoas não são incapazes e violentas, como se diz comumente sobre o louco”, disse.

Envolver a família também é muito importante para chegar ao resultado desejado. De acordo com Ana Luiza, há reuniões específicas para os familiares, a fim de ajudá-los a lidar com a situação, já que muitos não sabem a forma correta de agir e chegam desgastados emocionalmente. Com o tempo e tratamento adequados, eles vão descobrindo novas possibilidades de viver uma vida normal. “Alguns se aposentam devido aos problemas psíquicos, porém se redescobrem por meio de novas habilidades e voltam a se sentir capazes”, ressaltou.

Volta por cima – A descoberta da doença por Valéria Rodrigues, 34 anos, não foi fácil. “Aceitar o problema é a parte mais difícil”, destacou. Em tratamento no Caps há três anos por causa da depressão, Valéria já convive de forma tranquila com os colegas, a família e os profissionais, além de se envolver no trabalho do local, incentivando outras pessoas a conquistar o que ela conseguiu: equilíbrio. “A gente chega aqui sentindo nada. O caminho a percorrer é longo, é preciso engolir um leão por dia”, disse.

O convívio com os amigos e o bom tratamento foram essenciais para que ela pudesse levar o tratamento adiante. “Muita coisa mudou para melhor na minha vida. Hoje, entendo que não posso abandonar o tratamento, pois só assim consigo ter uma vida normal”, reforçou ela, que adora escrever e está prestes a lançar um livro sobre as experiências vividas com a doença.

José Adriano Batista, 35 anos, é esquizofrênico e chegou ao Caps em janeiro deste ano, encaminhado pelo serviço de Pronto Atendimento a Saúde Mental (Pasmen), localizado no Trauminha de Mangabeira. Ele mesmo contou que, na época, estava em um estado delirante, agressivo e perseguitório, mas que, por meio do tratamento que recebeu, logo conseguiu se socializar com as pessoas. “Venho três vezes por semana, assisto às palestras e participo das oficinas. Aprendi sobre união, respeito e cuidado, além de ter me tornado mais participativo”, revelou ele, que recebe o apoio e dedicação da família, mas mora sozinho e tem a sua independência.

Para a psicóloga Adriana Gonçalves, o início da mudança acontece quando eles reconhecem e entendem que há algo errado. “Alguns já sabem quando entram em crise. Então, o nosso papel é fazer com que eles percebam o que os faz mal, reconhecer os sinais e buscar ajuda”, disse.

Chegando ao fundo do poço – No Centro de Atendimento Psicossocial destinado ao tratamento de álcool e outras drogas, não faltam histórias de superação entre pessoas que venceram o vício pela vontade de conquistar uma vida digna e ter de volta o respeito da família e dos amigos. É o caso de Fábio Morais, 40 anos, que sempre procurou a bebida para fugir dos problemas. Segundo contou, ele chegou a um estágio em que já estava desacreditado por todos. “Quando cheguei aqui, há seis meses, encontrei apoio para mudar a minha vida. Saí do inferno para o céu, pois reconquistei o amor da minha família e dos meus amigos”, comemorou.

O segredo para alcançar o sucesso do tratamento é a dedicação e o entrosamento da equipe de profissionais, segundo Leandro Roque, diretor do Centro. “Trabalhamos com a política de redução de danos. Toda a equipe de profissionais está envolvida para proporcionar a recuperação dos pacientes. O importante é mantê-los ativos e produtivos. Eles têm que entender que são úteis e capazes de superar o problema que enfrentam”, disse.

Antônio Santos, 42 anos, frequenta o centro há um ano e dois meses. De acordo com ele, o preconceito que enfrentou no seio familiar o tornou ainda mais dependente do vício, mas a força de vontade o fez superar as crises. “A tentação é grande, mas aqui encontro forças para continuar perseverando. A ocupação com as atividades artísticas ajudam a ocupar a mente e evitar a recaída”, revelou.

Crianças e adolescentes – No Caps Infanto-Juvenil, as demandas são tanto de transtornos mentais como de vícios em álcool e outras drogas. O lugar atende crianças e adolescentes de 3 a 17 anos. O atendimento é realizado como nos outros centros, porém, com atividades mais lúdicas, com o objetivo de envolver as crianças no que elas mais gostam de fazer. “Oferecer o acolhimento clínico para as pessoas que estão num momento delicado é o ponto de partida para o início de um tratamento adequado”, disse a diretora, Jackeline Aires.

Aparecida Correa, mãe de R.C. (10 anos), contou que o filho sempre foi uma criança extremamente agitada e agressiva. Até ela descobrir qual era o problema do garoto (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), não foi nada fácil. “As pessoas diziam que o problema dele era falta de educação, mas foi na escola que uma psicóloga me orientou a buscar ajuda com profissionais”, disse. Aparecida foi ao serviço de Saúde da Família e recebeu orientação para levá-lo ao Caps. “Desde então, há três anos, ele participa de atividades que o ajudam a ser mais sociável”, afirmou.

O adolescente M.P.G, 15 anos, chegou ao Caps obrigado pela mãe, devido ao vício em álcool e outras drogas – também já havia sido apreendido e enviado ao CEA, por delitos. A dura realidade e o tratamento no local já despertam no adolescente, mesmo em apenas dois meses, o desejo de mudar de vida. “Hoje venho aqui porque quero. Participo das oficinas de arte e aproveito todas as oportunidades para mudar e crescer. Assim, posso provar para os outros que eu sou capaz”, refletiu.

Serviços:

Caps Caminhar (transtornos mentais)

Endereço: Rua Paulino Santos Coelho, s/n, Jardim Cidade Universitária

Telefone: 3218-7008/ 5914

Horário de Atendimento: 24h

Caps Gutemberg Botelho (transtornos mentais)

Endereço: Rua Arquiteto Hermenegildo Di Lascio, nº 64, Tambauzinho

Telefone: 3211-6700

Horário de Atendimento: 24h

Caps AD (álcool e outras drogas)

Endereço: Rua José Soares, s/n, Rangel

Telefone: 3218-5244

Horário de Atendimento: 24h

Caps Infanto-Juvenil Cirandar (transtornos mentais e álcool e outras drogas)

Endereço: Rua Gouveia Nóbrega, s/n, Róger

Telefone: 3214-6079

Hora de Atendimento: 8h 12h e 13h às 17h

Pasmen (Trauminha Mangabeira)

Endereço: Rua Ag. Fiscal José Costa Duarte, s/n, Mangabeira II

Telefone: 3218-9727/ 3214-1980/3214-1981