Usuários do CAPs AD escrevem cartas e cartões natalinos como terapia

Por Thadeu Rodrigues - em 1197

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Usuários do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPs AD) David Capistrano estão desenvolvendo uma forma alternativa de terapia a partir da escrita. Eles estão escrevendo cartas e cartões natalinos para familiares, amigos e os profissionais da própria instituição, relatando o tratamento e a forma como estão se sentindo.

A coordenadora do CAPs AD, Janaína D’Emery, explica que o projeto Cartas Terapêuticas foi criado para incentivar a escrita, considerando que muitos usuários não sabem ler, nem escrever. Neste caso, os oficineiros escreviam as cartas ditadas pelos usuários. Além disso, eles puderam expressar seus sentimentos. “Temos dois usuários que estavam com problemas amorosos e escreveram cartas para recuperar o casamento”, conta Janaína D’Emery.

O usuário Edvan Pereira, de 57 anos, participa das atividades do CAPs AD há três anos. “Me sinto muito bem aqui. Gosto das pessoas e das atividades. Venho duas ou três vezes na semana, que são os dias em que estou de folga do trabalho de porteiro”, afirma ele, que escreveu cartas para a mãe, com quem mora no bairro do Rangel, e para os amigos.

De acordo com o pedagogo Cleudo Gomes, a temática das cartas também foi trabalhada em outras oficinas, com músicas, poesias e exibição de filmes. “Também há uma leitura coletiva de cartas para quem permite, bem como o envio aos Correios para que chegue ao destinatário”, relata ele.

Usuários – O CAPs AD tem 685 usuários ativos, mas a frequência de atendimento é variável, conforme explica Janaína D’Emery. “Nosso serviço funciona 24 horas por dia. Há os usuários que ficam acolhidos por um período de até 14 dias. Para isto, disponibilizamos 10 leitos. Também temos os que vêm todos os dias e fazem as refeições aqui, enquanto outros frequentam uma ou duas vezes na semana. Há uma média de 45 pessoas ao dia”.

Roberto da Silva, de 64 anos, recebe um benefício de prestação continuada e, há um ano, é usuário do CAPs AD. “Eu passo o dia aqui. Se fico em casa, não tenho o que fazer, e a minha esposa acha ótimo que eu venha”, conta ele, que está há dois meses sem ingerir bebida alcóolica.

A cada dia há uma atividade diferente no CAPs AD. São elas: contação de histórias, redução de danos, música, cuidados do cuidador e percussão. Além disto, há acompanhamento psicossocial em grupo e escuta individual com psicólogos. As atividades são definidas em assembleia com os usuários.

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Redução de danos – Janaína D’Emery destaca que o CAPs AD não trabalha com a abstinência à droga, mas com redução de danos. “A droga não é a causa dos problemas, é uma consequência. Há usuários com os vínculos familiares rompidos e vida social comprometida, nós buscamos resgatar isto e reduzir os danos. Alguns dizem que vão sair para fazer uso da droga. Eles saem e voltam no outro dia, porque não recebemos usuários sob efeito de drogas”.

O CAPs AD está localizado na Rua José Soares, s/n, Rangel. O acesso é por demanda espontânea. Normalmente, é a família quem leva o usuário. “Quando a família é presente, a recuperação é mais rápida, mas não lidamos com situações fáceis. Há muitos usuários resistentes ao álcool, principalmente os mais velhos. Eles possuem mais sequelas para fazer as atividades e um maior comprometimento clínico do que os usuários de outras drogas”, explica Janaína D’Emery.