Bica usa falcoaria para reabilitação de aves e na educação ambiental

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DSC03176Reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como patrimônio cultural da humanidade, com apoio de 11 países, a prática da Falcoaria, tem o dia 16 de novembro como data comemorativa, daquela que é considerada a arte milenar de criar e treinar aves de rapina para captura de caças.

No Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica) são utilizadas técnicas dessa arte milenar para reabilitação e nos casos em que a ave não pode mais retornar à natureza é utilizada para conscientização da população sobre a importância ecológica das aves de rapina e sobre tráfico de animais silvestres.

As aves que estão sendo capacitadas para reabilitação passam por um processo de avaliação de comportamento (identificação da presa, instinto e medo de pessoas), física (ganho de massa muscular e resistência respiratória), desempenho de caça (capturas de presas em movimento) e sanitária (pesquisa de doenças), tudo isso para deixar o animal melhor preparado para ser solto em seu habitat natural.

Para o treino e estímulo do animal, são usadas presas vivas que normalmente fazem parte de sua alimentação na natureza. Algumas dessas aves são oportunistas, podendo pegar animais debilitados ou mesmo mortos, geralmente aves com esse comportamento, não são boas caçadoras, porém são mais adaptadas que outras espécies.

Recentemente foi iniciado um trabalho de reabilitação com um Gavião-Preto (Buteogallus urubitinga) ainda jovem que veio com um trauma leve na asa que em poucos dias se recuperou bem, e agora está passando pelo processo de avaliação. “O trauma é bastante comum nos rapinantes que chegam aqui para tratamento, seja ele após um choque elétrico, maus-tratos das pessoas (pedradas, tiros etc) ou após uma colisão com estruturas antrópicas (edifícios e outras construídas pelo homem)”, contou Roberto Citelli, que trabalha atualmente na reabilitação de algumas aves de rapina no Parque.

No caso do Gavião-Preto, a previsão é que ela seja reintroduzido na natureza ainda este ano. “Evitamos o contato muito próximo para que a ave não se acostume, pois quando for solta poderá chegar muito perto das pessoas e assim sofrer algum tipo de dano, como por exemplo, invadir um galinheiro e acabar sendo morta. Esperamos soltá-lo ainda este ano”, afirmou Roberto Citelli.

Atualmente a Bica tem nove espécies de aves de rapina, entre elas um casal de Buteogallus meridionalis, o Gavião-Caboclo. O macho tem uma pata apenas, e a fêmea, jovem, teve uma fratura e foi tratada. Ela é um animal que ficou muito manso e não reconhece outros gaviões como da sua espécie. Acredita-se que não será possível a reprodução em cativeiro e nem mesmo a soltura, por conta de comportamentos adquiridos.

No caso do macho, ele está sendo trabalhado para ficar em semi-cativeiro, podendo voar solto e voltar pra se alimentar e dormir, já que não tem condições de voltar à natureza pelo fato de não ter uma das patas. “Nestes casos, estão sendo usadas técnicas de Falcoaria para Educação Ambiental, visando mais questões de comportamento e alimentação, diferentemente da Falcoaria tradicional, que foca em criar e treinar falcões, gaviões e corujas para captura de caças e que acaba acostumando o animal com a presença humana. No caso da fêmea de Gavião-Caboclo, o fato de ser mansa permite que possamos mostrá-la, por exemplo, aos usuários do Instituto dos Cegos, de forma que eles possam tocar no animal vivo e sentir suas garras com segurança para ambos, permitindo um contato mais próximo com o animal”, disse Roberto Citelli.

Características – De hábitos carnívoros, as aves de rapina compartilham algumas características, como o bico e garras afiadas, excelente visão, audição e outras características, que fazem delas excelentes predadoras, admiradas por muitos pela força, agilidade, independência e porte, porém alguns reconhecem também a importância das aves de rapina na natureza, não apenas por sua beleza, mas porque regulam a população de presas, garantindo o equilíbrio no ecossistema, eliminando animais considerados “pragas” pelo homem, como é o caso dos roedores e insetos.