Animais raros e em risco de extinção ganham cuidados especiais na Bica

Por Eliabe Castor - em 1952

dia_do_animal_bica_foto_luizvaz_077Eliabe Castor

O macaco fez um grunhido, saltou de uma copa de árvore para outra, sendo seguido por um “séquito” obediente. Como um rei, resolveu descer para o chão do recinto, e fez uma careta para uma criança deslumbrada e curiosa. Era Chico, o primata dominante de um clã bem humorado e travesso que habita o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, um dos espaços públicos de preservação da natureza mantidos pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP)

Fincado entre os bairros de Tambiá e Róger, com uma área 27 hectares cercado de Mata Atlântica virgem, riachos, uma fonte de água mineral e um lago dotado de pedalinhos para os que desejam manter um maior contato com a natureza, o espaço foi criado na década de 20 e vem encantando gerações seguidas. A partir desta segunda-feira (1) o local será palco para diversas atividades relativas à Semana do Meio Ambiente.

Com 560 animais, entre felinos, aves, peixes, répteis e primatas, a Bica, como é mais conhecida pela população, também abriga uma flora que encanta visitantes por sua diversidade e beleza.

A Bica está dotada de um plantel de animais bem diversificado, sendo muitos considerados em extinção, como a onça pintada, gato do mato, jaguatirica, sussuarana, ararajuba e macaco prego. Ainda há outros, como o macaco galego, considerado pelos biólogos como extinto há 300 anos, sendo encontrado recentemente exemplares na Mata Atlântica do Estado de Alagoas. A Bica, PLUBI_BICA_Foto_CORNELIOLIMA 232hoje, dispõe de sete desses primatas, sendo um filhote.

Outro animal raro, segundo a bióloga Helze Lins, chefe do setor de nutrição e manejo do Parque Arruda Câmara, é a lontra albina. “Só existem dois animais desses conhecidos na terra. Um aqui, outro no zoológico de Londres”, revelou, demonstrando um ar de satisfação e orgulho.

A lontra albina, condição caracterizada pela falta de melanina no corpo, é rara, pois esses animais geralmente têm coloração marrom a parda. A que mora na Bica tem a pelagem bastante clara e olhos avermelhados. A condição de albinismo dificulta a camuflagem na natureza e torna o animal vulnerável aos predadores e que o fato dele ter chegado ainda filhote na Bica, fez com que precisasse de cuidados especiais dos técnicos.

O animal foi encontrado por um pescador, estava sozinho, perdido da mãe, e como ainda era filhote em fase de amamentação, não poderia ser deixado na natureza, pois se tornaria presa fácil ou alguém poderia capturá-lo. Então a Polícia Ambiental foi solicitada e o animal foi doado à Bica, seguindo uma legislação ambiental rigorosa.

15-07-14-Recinto-da-Efelanta_foto_Alessandro-Potter005Elefanta Lady é uma das estrelas do Parque- Outra grande estrela do parque é a elefanta Lady, hoje com 40 anos, que foi resgatada de um circo que percorria o Brasil com o animal de forma irregular. Além de receber uma dieta balanceada, ingerindo diariamente 100 quilos de capim e 40 de frutas e legumes, o paquidérmico ainda recebe farelo, sal mineral e mimo dos funcionários da instituição e de todos os que a visitam. Um mimo tão grande quanto o seu tamanho.

A construção do recinto de Lady seguiu orientações da ONG norte-americana Global Sanctuary for Elephants e foi aprovado por especialistas, obedecendo às regras da legislação ambiental. No entanto, por ter um comportamento brincalhão, é constante o animal “destruir” os brinquedos e aparelhos destinados à sua recreação, algo que seus tratadores e biólogos encaram com alegria e naturalidade.

Profissionais cuidam da saúde e alimentação- O Parque possui uma equipe multidisciplinar dotada de biólogos, zootecnistas, tratadores, veterinários, além do pessoal de apoio que cuida da segurança da instituição. Também conta com o reforço de estagiários que estão cursando a universidade ou o ensino médio.

Os animais possuem uma alimentação rigorosa e balanceada, seguindo os padrões adotados pela Sociedade Brasileira de bica_foto_rafaelpassos_142Zoológicos e Aquários do Brasil, informou o veterinário Thiago Nery. A dieta implementada é a zoothition, revelou o profissional, para em seguida explicar que o Parque dispõe de uma cozinha especializada, com profissionais capacitados, a fim de prepararem a comida dos animais seguindo especificações técnicas relacionadas à espécie, peso e tamanho.

“Um leão, por exemplo, come seis quilos de carne por dia. Seguimos as especificidades do animal e suas necessidades alimentares e nutricionais”, observou Nery, informando, ainda, que os animais que chegam à Bica passam por um período de quarentena, onde são avaliados e, só então, introduzidos nos recintos e, assim, assegurando a saúde de todos.

Antigos moradores da área guardam boas lembranças do local- O bancário e advogado aposentado, Leverrier Nunes de Castor, residiu na rua Pereira Pacheco, paralela à Bica, na década de 50. Com certo ar nostálgico, ele confidenciou suas peripécias de adolescente dentro do terreno do Parque, como brincar de esconde-esconde, pião, academia, bola, havendo uma regra geral para todos os seus amigos. Não matarem os animais, principalmente pássaros, e as baladeiras eram peças banida da “trupe”.

PLUBI_BICA_Foto_CORNELIOLIMA 178Ele ainda lembra da quadra esportiva que existia na Bica, explicando que se tratava de um “aparelho” do tecido social de João Pessoa importante, relatando, por exemplo, os jogos de basquete adulto que ocorriam ali. “Quando o Cabana e o Astréia iam jogar, vinha gente de todos os lugares. Havia grande torcida. O jogo seguia regras oficiais e eles eram os dois melhores times da época”, recorda.

Já o casal mineiro Marco Aurélio e Elen Oliveira, que reside em João Pessoa há sete anos, informou que, sempre que tem um tempo, visita a Bica, ressaltando a beleza do lugar. A mineira, inclusive, grávida de aproximadamente oito meses, resolveu fazer uma sessão de fotos no local, expressando sua admiração à fauna e flora da localidade.

A Bica – A primeira data sobre a edificação da Bica (fonte de água mineral que está nos domínios do Parque Arruda Câmara) é de 1782, sendo construída em pedra calcária. Em 1889 houve nova restauração e, em 24 de dezembro de 1922, a Provedoria da Fazenda autorizou nova restauração. Como o implemento é tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (IPHAN), a Prefeitura Municipal de João Pessoa e o órgão regulador estão em negociação para uma nova restauração.

A mais famosa fonte paraibana foi batizada pela população de Bica. Uma lenda indígena explica a origem da fonte “Uma virgem indígena da tribo Potiguara chamada Aipré, apaixonou-se por Tambiá, um guerreiro Cariri e inimigo tribal, este foi ferido em batalha, e por sua valentia, recebeu as honras dos vencedores, que lhe concederam Aipré como esposa de morte. Após o casamento, Tambiá foi morto pelos parentes da índia, que chorou durante 50 luas. Do seu pranto nasceu a fonte de Tambiá.”