PMJP promove reflorestamento da Mata Atlântica por meio de meliponários
O Viveiro Municipal de Plantas Nativas da Prefeitura de João Pessoa (PMJP), em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc-PB), além de produzir mudas da Mata Atlântica, desenvolve, desde 2008, o Projeto Meliponários Didáticos, com a criação de abelhas da espécie uruçu (Melípona Scutellaris). Essa espécie, nativa da Zona da Mata Atlântica paraibana, produz mel com propriedades medicinais e não tem ferrão.
O Projeto Meliponários Didáticos, desenvolvido pela parceria entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), não tem foco comercial, tanto é que não se vende mel, cera ou própolis no Viveiro Municipal. Os principais objetivos são a educação ambiental, a formação de multiplicadores e a preservação da Mata Atlântica.
Para tanto, são oferecidos anualmente, de forma gratuita, cursos e oficinas de criação e manejo das abelhas uruçu. Até o momento, cerca de 90 pessoas já foram capacitadas. “O projeto se aliou ao trabalho já existente de produção de plantas nativas, promovendo a conservação do principal responsável pela polinização dessas plantas, que são as abelhas uruçu”, contou a bióloga responsável pelo Meliponários Didáticos, Sandra Sousa.
Hoje, a PMJP tem três meliponários: um no Viveiro Municipal – que funciona no Sesc-Gravatá desde a sua fundação –, um no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica) e um no Centro de Práticas Ambientais (Cepan), antiga Escolinha de Meio Ambiente da Bica. Ao todo, são 46 caixas.
Caixa didática – A equipe do Projeto Meliponários Didático também divulga a criação e o manejo das abelhas uruçu recebendo visitantes no Viveiro Municipal ou indo a colégios e eventos, como Estação de Serviços e feiras de ciências.
Para isso, existe uma caixa didática, com um vidro em um dos lados, através do qual é possível observar a atividade das abelhas. A visitação ao Viveiro ou a ida da equipe a escolas e eventos é feita com agendamento prévio, por meio de oficio. Mais iformações pelo telefone 3214-4936, de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e das 14h às 17h.
Meliponicultura – Segundo Sandra Sousa, a principal intenção do Meliponário Didático é produzir e ampliar o número de caixas para doar aos agricultores que vão participar dos cursos. Ela contou que, com a implantação do projeto, foram adquiridos seis cortiços (abelha quando está na madeira), que vieram de Guarabira. No primeiro curso, foi realizada a transferência do cortiço para o modelo de caixa do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpar), chamado Fernando Oliveira. Com esse modelo, após quatro meses de bom manejo, é possível dividir essa caixa em duas. “E foi assim que, das seis caixas adquiridas no começo do projeto, hoje temos 120”, explicou.
Ela ressaltou que, para quem cria abelhas na intenção de lucro, com a multiplicação das caixas é possível conservar o inseto na vegetação nativa, ter maior produção de mel e, ainda, vender caixas sem retirar o mel da natureza. Após os cursos, vários agricultores se uniram para formar cooperativas.
A bióloga explicou que a apicultura (das abelhas com ferrão) produz mais, enquanto a meliponicultura pode produzir até dois litros e meio anuais, por caixa. O mel produzido na meliponicultura, além de saboroso, é considerado medicinal, balsâmico e mais rico em princípios aromáticos do que o da apicultura.
Manejo – Para conseguir a divisão de caixas, a criação de abelhas sem ferrão é alimentada artificialmente, na fase considerada de entressafra – do período entre o final de abril e o final de agosto. De acordo com Sandra, das 42 caixas existentes no meliponário do Viveiro Municipal, dez recebem alimentação artificial para que a rainha seja estimulada a pôr mais. “A gente fornece 200 ml de uma mistura de água e açúcar, por semana, para cada caixa”, ensinou.
Quando chega a época da colheita, no final de agosto, o alimento artificial é suspenso e a alimentação passa a ser feita só com pólen colhido da natureza, pela própria abelha. Essa fase vai do final de agosto até janeiro, quando a caixa se enche só com mel de floração – o mel puro, que é pouco e não é vendido, sendo usado só para a divulgação do projeto. As caixas restantes continuam sendo alimentadas artificialmente, exclusivamente para a multiplicação.
Animal de estimação – Uma das pessoas que passou pelo Curso de Criação e Manejo de Abelhas Sem Ferrão e que hoje cria a Melípona Scutellaris em casa é a dentista e bacharel em direito Eliana Maria Jardim Ferraz, que mora no bairro de Manaíra.
No final do Curso de Criação e Manejo de Abelhas Sem Ferrão, os alunos recebem certificado participam do sorteio de uma caixa de abelhas. Eliana, que no projeto se encaixa como agente multiplicadora, foi sorteada.
Para ter a caixa, ela assinou um termo de compromisso e se responsabilizou pelo cumprimento do que aprendeu no curso. Durante um tempo, a equipe do Projeto Meliponários Didáticos da PMJP prestou a assistência técnica necessária à nova meliponicultora.
Eliana contou que não teve problemas com a vizinhança, mas algumas pessoas se assustam quando vêem uma caixa de abelhas em seu jardim. “As abelhas não fazem barulho nem atacam. Meus filhos já se acostumaram”, dissea dentista, que cria abelhas como animal de estimação desde dezembro de 2011.
Ela assegurou que o manejo é simples e recomendou a criação, destacando que é tudo muito seguro. “Minha rotina é observar a caixa diariamente e, uma vez por semana, alimentar”, disse, ressaltando que a criação de uruçu também é para a preservação da natureza. “Estou apaixonada pelas abelhas”, disse.
Ampliação – Atualmente, a equipe do Viveiro Municipal está analisando duas propostas de ampliação do Projeto Meliponários Didáticos. Uma é do Canto do Uirapuru, que trabalha com medicamentos fototerápicos para a população, e a outra é do Centro Holístico da Mulher – Afya.
Sandra acrescentou que as propostas surgiram depois que algumas pessoas que atuam nos dois locais fizeram o Curso de Criação e Manejo de Abelhas Sem Ferrão. “Vamos fazer vistorias nos locais e ver a viabilidade”, completou.
É importante saber – A meliponicultura é uma atividade referente à produção de mel, própolis e ceras de abelhas indígenas ou nativas – que são as abelhas sem ferrão. O meliponário é o local onde ficam abrigadas as abelhas, e o criador se chama meliponicultor.
No Brasil, segundo informações da bióloga Sandra Sousa, existem 350 espécies de abelhas sem ferrão. Aqui na Paraíba, além da uruçu, existem outras abelhas sem ferrão, como a jandaíra, a moça branca e a mosquito.
Serviço – O Viveiro Municipal fica localizado no bairro do Valentina Figueiredo, nas dependências do Sesc-Gavatá, e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e das 14h às 17h. O telefone de contato é 3214-4936.